O sujeito se recorda bem de sua infância, na década de 1980, quando só se viam nas propagandas de televisão ou nas ruas de sua cidade, praticamente, automóveis de quatro grandes marcas, que fabricavam, montavam e vendiam seus veículos, aqui mesmo, no Brasil. Tanto é que duas delas chegaram a se fundir num consórcio inicialmente bem sucedido chamado Autolatina. Recorda-se também, orgulhosamente, o menino que, à época, seu pai era um privilegiado proprietário de um possante Ford Corcel 2, um esportivo que reunia potência, elegância e formalidade. Mais adiante, já na adolescência e quase adentrando uma universidade, o rapaz se lembra de quando foi lançado um modelo revolucionário de carro que, pelo desenho compacto, potente e econômico, se auto proclamava como "a cara do novo". Ou seja, um carro que era a sua cara.
Foi com grande pesar que aquele sujeito(menino) recebeu a notícia do fim das operações industriais da Ford no Brasil. Maior pesar ainda sentiu quem dependia dos empregos diretos e indiretos gerados pela marca, em seu pouco mais de um centenário de presença no Brasil, bem como suas famílias. Nunca mais a Ford do Brasil concebeu um carro com as mesmas classe e potência do saudoso Corcel. Os carros mais populares e mais vendidos pela empresa no Brasil, mais recentemente, não eram tão baratos, nem tão bons assim. Nenhum deles transpirava ou fazia jus ao peso da marca Ford, cuja sonoridade lembra a palavra "forte". Há tempos, a Ford vinha pecando por deixar de apresentar ao mercado nacional uma extensa variedade de opções de veículos para todos os gostos e necessidades, tal como fazem suas concorrentes.
No entanto, a Ford deve fazer uma falta muito grande, por aqui. Legalmente, nada prende a marca Ford ao Brasil, que pretende levar embora também as subsidiárias Willys e Troller e se manter no mercado brasileiro apenas com as vendas de alguns tipos de veículos importados de outras praças. Todavia, o encerramento abrupto das atividades industriais da Ford no país, principalmente num momento tão delicado para a humanidade, com potenciais consequências tão devastadoras, seria algo a se pensar, moral e eticamente falando.
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