Estava aqui matutando com meus botões sobre este fim de ano, nos poucos momentos em que posso me dedicar à alguma reflexão. Embora não acredite nessa história de que o mundo, tal como o conhecemos, deve acabar em 21 de dezembro de 2012, haja vista que ainda há muito chão pela frente, na história da humanidade, reconheço que estamos vivendo em uma época crepuscular, uma era dos extremos, uma era de decisões, uma era em que a vida perdeu a graça e o sentido que possuía, outrora.
Não são essas catástrofes naturais que acontecem mundo afora, tais como furacões, terremotos e maremotos, por exemplo, que me assustam. Eventos como esses sempre aconteceram, mesmo antes de o ser humano surgir, sobre a face da Terra, mas somente depois que os meios de comunicação avançaram, eles ganharam mais repercussão. Quando acontecem tsunamis isolados, do outro lado do mundo, por exemplo, ficamos sabendo na mesma hora e nos assustamos.
O que tem me assustado de verdade e tem me deixado mais receioso com o futuro da humanidade não é o jeito de o planeta responder à incômoda presença da humanidade, mas a maneira como essa humanidade responde à sua própria presença incômoda para si mesma e como se relaciona consigo mesma. Esta mesma humanidade é que deve acabar se autodestruindo, por destruir o meio em que vive, destruindo os subsidíos para sua sobrevivência. Aqui, cada vez mais, cada um só pensa no seu, procurando reter o máximo para si, prejudicando a si mesmo e aos semelhantes.
As piores ameaças à sobrevivência da espécie humana, pelo menos no meio em que vivo, não são enchentes, secas, terremotos, furacões, maremotos ou erupções vulcânicas. Nada disso. É a própria espécie humana, representada especialmente por aquele segmento de pessoas que insistem em viver como animais selvagens ou como parasitas à margem do restante da sociedade, instaurando o terror e nos impedindo de viver.
À medida que eles se aprofundam nesta opção de vida, alegando não haver outra opção e sem demonstrar arrependimento pelas suas escolhas, eles comprometem a produtividade dos trabalhadores, comprometendo a produtividade da indústria, do comércio e de outras fontes de produtos e de serviços. Enfim, impedindo que as pessoas saiam de casa como quiserem, para trabalhar, para consumir ou para se divertir, estão aumentando os ônus das empresas e do poder público em segurança e estão comprometendo o desenvolvimento econômico. Graças a eles, a maioria dos pequenos comércios nos bairros das periferias, por exemplo, faliu. Os poucos que funcionam mantêm suas portas com grades trancadas. As consequências disso, logo mais voltarão para toda a sociedade sentí-las.
Como diz o filósofo e já devo ter dito aqui antes, a devastação não vem dos céus, vem daqui mesmo, do chão, quiçá de dentro de nós mesmos. Em Fortaleza, no começo de 2012, vivemos uma prévia do que seria uma calamidade pública apocalíptica. Com as polícias em greve, estabelecimentos comerciais fechados, repartições públicas fechadas, pessoas recolhidas às suas casas, ruas e avenidas quase que totalmente esvaziadas, e as hordas do poder paralelo procuraram tirar o máximo de proveito possível daquela situação, indo às ruas e indo à forra, como se fossem feras ou maus espíritos liberados, aterrorizando a população, mais do que já aterrorizam.
O homem é o lobo do próprio homem, segundo o filósofo. Voltaremos a conversar sobre isso, em breve.
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