Sem querer mimetizar algum apresentador/filósofo/poeta da televisão brasileira, você pode até não ser um aficionado por qualquer reality show, mas você há de convir que os programas desse gênero, principalmente o mais consagrado, mais antigo, mais badalado e de maior audiência, com maiores tempos e formatos de exposição, em todos os meios de comunicação possíveis, e máximas possibilidades de exploração de partes das vidas de seus participantes, bem como de sua saúde física e mental, meio que como numa unidade de treinamento militar, apesar de as condições de insalubridade serem um pouco melhores (praticamente 24 horas por dia e 7 dias por semana e ao vivo), que podem chegar a ficar confinados dentro de uma casa cinematográfica, por até 100 dias, assim como o navegador Amir Klink esteve confinado por 100 dias, entre céu e mar, enquanto cruzava o Oceano Atlântico sozinho, à bordo de uma pequena embarcação, há quase 40 anos, enfim, essas atrações são como metáforas da vida cotidiana de cada um, e você vai já entender o porquê disso, tudo dentro das devidas proporções guardadas, enquanto você deve estar, direta ou indiretamente, envolvido, de uma forma ou de outra, com essa expectativa que toma conta de muitos brasileiros, nesta noite, como numa decisão de um campeonato de futebol.
Quando o apresentador do programa se comunica com os participantes, seja individualmente ou em grupo, por meio de videoconferência, é como Deus tentando falar com cada um de nós. Quando um participante é eliminado, é como se estivesse morrendo, para aquele mundo. Aqueles que permanecem se despedem do seu(sua) irmão(ã) com pesar, acompanhando-o(a) até a porta de saída, que seria o cemitério, e o fazem com uma ponta de alívio, simultaneamente, porque seguem na disputa, quando poderia ser qualquer um deles a estar de partida, naquele momento. É a vida que segue o seu jogo/curso, enquanto o eliminado parte para o outro lado do estúdio/vida, sendo cumprimentado pelo apresentador/Deus e sendo aplaudido pelo anjos e santos, que seria a plateia presente, constituída, na maioria das vezes, por familiares e amigos, na torcida e na espera. Se, por um lado, aquela plateia, bem como o próprio eliminado, estavam torcendo, para que ele não estivesse naquele palco tão cedo, permanecendo dentro da casa o máximo de tempo possível, por outro lado, estão todos felizes porque ele está lá e por tê-lo de volta em sua companhia, pois ele, apesar de não haver completado a sua corrida, está numa bem melhor. Pelo menos tem sido assim, na maioria das eliminações, que tem sido, em geral, bem recebidas.
Enquanto vivemos no mundo, cada um exerce um papel, em sua sociedade, para o bem ou para o mal, construindo amizades e inimizades e gerando simpatias e antipatias. Umas vezes, constituindo famílias, outras vezes, erguendo impérios. Umas vezes pode se sentir só, mesmo na companhia de outrem, como numa prisão, não deixando por isso de, às vezes, se deixar enebriar pela falsa ilusão de liberdade e/ou de libertinagem, se esquecendo, por um instante, de que mais pessoas, além de Deus, podem estar vendo e ouvindo o que estiver fazendo, formar conceito ao seu respeito e crucificá-lo. Por isso, há casos de indivíduos que são eliminados de forma ignominiosa, depois de passar um pouco dos limites estabelecidos pelas leis e pelos costumes, ainda que meio que inocentemente. Leis e costumes que não podem ser esquecidos, em momento algum, enquanto vivemos neste mundo, mesmo que estando numa espécie de multiverso, pois nem tudo que acontece lá fica por lá. Isso deve nos ensinar a ter mais respeito aos direitos, à individualidade e à liberdade de cada semelhante, onde quer que estejam e quem quer que sejam.
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