Após uma semana difícil, daquelas que você não consegue identificar onde ela começa e onde ela termina, acabando por emendar com a precedente e/ou com a subsequente, aqui deixamos, para seus relaxamento e deleite, uma singela homenagem ao Skank, a banda brasileira de rock contemporâneo mais beatlefônica de que já se ouviu falar.
O Skank encerrou oficialmente suas atividades, há algumas semanas, após um mega show de despedida do público, no estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG), cidade que viu aqueles quatro rapazes de BH crescerem, se aglutinarem e multiplicarem suas artes, mundo afora.
Eles bem que poderiam tomar a saideira deles, no mesmo estilo de seus maiores influenciadores, os Beatles, que tomaram muita gente de surpresa, quando, numa manhã fria de um dia comum de 1969, tocaram publicamente juntos, pela última vez, no deck do prédio da gravadora deles, em Londres, chamando a atenção de quem estava passando pela rua.
Ou poderiam também surgir, de repente, tocando em cima de um caminhão, transitando pelas ruas da cidade, como fez o U2, ao gravar o clipe de All Because Of You, em Nova Iorque.
Ao contrário de seus inspiradores, o Skank iniciou um processo de dissolução lento, gradual e amigável, aparentemente, procurando se despedir dos seus fãs, por meio de uma extensa turnê (já avisando que seria a última), da forma menos dolorosa possível. O programa Altas Horas, da TV Globo, apresentado nas noites de sábado, por Serginho Grossmann, um lugar por onde eles transitaram por incontáveis vezes e que marcou significativamente a carreira da banda, não poderia ter ficado de fora daquela Via Crucis do bota-fora.
Como já foi comentado aqui, a separação dos Fab Four britânicos se deu de modo mais insidioso. Primeiramente, eles cessaram as turnês e as apresentações públicas, em 1966, e passaram a se deter aos trabalhos reservados em estúdio. A mudança de foco, na temática das músicas que eles gravaram, a partir de então, na verdade, uma falta de foco naquelas temáticas, já indicava uma fragmentação das tendências artísticas dos membros, o que não implicou necessariamente num empobrecimento da qualidade daquele material produzido, mas foi somente depois do anúncio da homologação da separação, em 10 de abril de 1970, que tomou o mundo inteiro de surpresa, que veio à tona uma parte dos conflitos internos entre os egos dos integrantes da banda, o que gerou algumas especulações. Ou seja, de 1967 em diante, poderia se dizer que os Beatles já não eram mais os Beatles. Infelizmente, eles não foram feitos para durar muito tempo juntos, mas somente o tempo suficiente para cumprir sua missão na Terra e se eternizar em nossas lembranças auditivas.
O mesmo se pode dizer do Skank, que cumpriu seu metiê por cerca de 30 anos, marcando, essencialmente, a adolescência e a vida universitária, para muitos, como Tony Harrison, nosso colaborador mor, por exemplo, que nos contou ter presenciado um show deles, numa praça pública, em Sobral, há cerca de 14 anos, quando o vocalista e líder Samuel Rosa interrompeu a execução de Ainda Gosto dela e se manifestou, ao ver pessoas que, segundo sua descrição, pareciam adolescentes, brigando em meio ao público, e recomeçando a música, em seguida.
À propósito, o crooner Samuel Rosa, cujo corte de cabelo, nos primórdios da agremiação, já acusava suas influências, responsável também por muitas das composições do grupo, tem formação acadêmica na área de psicologia, tentando seguir os passos de seu pai, que era psicólogo, o que pode explicar, em grande parte, sua veia poética e sua versatilidade para compor músicas que falam do cotidiano, desde relacionamentos amorosos frustrados, como em Resposta, passando pela adaptação forçada ao aparato tecnológico que cada vez mais domina o cotidiano, como em Pacato Cidadão, até a emoção que envolve o torcedor de um time de futebol, como em É Uma Partida De Futebol. Muito de sua obra foi inegavelmente influenciada pelos Beatles. Por exemplo, o CD Siderado, lançado em 1998, foi integralmente gravado nos estúdios de Abbey Road, em Londres, defronte àquela famosa faixa de pedestres. Quase 20 anos mais tarde, eles gravaram uma versão de A Hard Days Night, em inglês mesmo, para tema de abertura de uma novela.
Quem dera essa notícia da separação fosse apenas uma fake news ou uma jogada de marketing deles, tal como aconteceu, quando, no auge dos Beatles, surgiu um boato de que Paul McCartney teria morrido em acidente de trânsito, e sido prontamente substituído por um sósia. Enfim, eles tiveram lá seus motivos, nos dois contextos. Respeitemos-lhes seus tempos e suas vontades.
Fato é que o Skank vai deixar muitas saudades também, sem sombra de dúvidas. Ficamos aqui imaginando como seus integrantes devem seguir com suas vidas, fora da banda, desejando que Deus os siga e os cubra de bênçãos, sempre muito gratos por todo o legado cultural deixado para a posteridade.
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