"Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!"
Mateus 16:24
Momentos como a Semana Santa, por exemplo, servem para nos recordar que Cristo passou todo aquele sofrimento, carregando aquela pesada cruz, se permitindo expirar e depois ressuscitar POR NÓS, permitindo que novas portas e janelas fossem abertas para a humanidade. Porém, também servem para nos lembrar de que cada um de nós deve carregar também a sua própria cruz (afinal de contas, Ele também precisou de ajuda, para carregar a Dele) e que as portas e janelas que Ele conseguiu abrir não são tão largas assim. A vida exige sacrifícios e, definitivamente, não é para amadores.
Provavelmente, você também carrega uma cruz, mas talvez não saiba disso. Se sabe, talvez não conheça ao certo qual a sua cruz. Na verdade, a própria existência humana, em sua passagem pelo mundo já é uma cruz, grosso modo, que todos carregam, compulsoriamente. Entretanto, algumas pessoas se destacam, pelo contexto em que vivem e pelo papel que assumem, umas vezes, recebendo algo em troca, outras vezes, não. Essas pessoas acabam demonstrando vocação, por vezes também tendo alguma formação para, segundo palavras próprias, "absorver tudo de todo mundo". Ou seja, elas acabam sendo vistas como uma espécie de Cristo, nas vidas de muitos de seus semelhantes. Elas costumam se sentir quase que constantemente cansadas, por se sentirem como sacos de pancadas ou como burros de carga que carregam o mundo nas costas. Por isso, não surpreende que, por vezes, elas sejam vistas por aí, andando lentamente, encurvadas e mal conseguindo levantar os pés do chão.
Até a vida de quem convive com gente que vive num círculo vicioso também vira um círculo vicioso. São vidas que se tocam e giram sincronamente, como engrenagens contíguas de uma máquina. Para muitos daqueles que trabalham para outras pessoas e pensando em suas famílias, a rotina pode ser muito sufocante e desgastante, sem encontrar muito espaço para descanso, por não ter mais tempo para fazer o que desejar ou precisar ou para ir aonde quiser, por exemplo. Na verdade, ultimamente, ele já não deve mais estar encontrando um lugar que ele possa chamar de seu. Sua vida não é mais sua. Sua casa não é mais sua.
Dentro de sua casa, ele é mais empregado do que dono. Em seu trabalho, mesmo sendo patrão, ele se faz de empregado. Tudo em sua vida é pelos outros e para os outros. Ele se doa até demais. Por isso vive sempre afogado pelas demandas do mundo externo, no dia a dia. Com as devidas proporções, ele considera que haveria, entre seu sofrimento e o de Cristo, uma certa analogia. Não deve ser fácil estar na pele de nenhum dos dois, mas ainda há quem diga que as vidas deles são fáceis e que eles têm poderes extraordinários. Por isso, muitos esperam que ele, além de carregar a própria cruz, que consiste, basicamente, na sua existência e no conjunto de mazelas de sua vida, carregue também outras cruzes, por ser visto como "mais forte". Tudo isso enquanto, na verdade, só Deus o quanto ele resiste por dentro para se manter de pé e não cair sob o peso das cruzes que carrega.
Algumas cruzes, as pessoas não procuram. Vêm até elas, automaticamente, ou são trazidas por terceiros, e quando se vão, sempre voltam feito bumerangues(teoria do resto), e se encravam em suas peles, como se fossem carrapatos ou espinhos, o que você preferir como menos doloroso. Mesmo assim, somos sempre ainda chamados a "exortai-vos uns aos outros" (Hebreus 3:13), "suportai-vos uns aos outros" (Colossenses 3:13) e "amai-vos uns aos outros" (João 13:34), por mais que o inferno sejam os outros e por mais pesado e doloroso que seja esse fardo. Pelo menos, ele sabe que ainda está mais vivo do que nunca, até porque dizem que a dor é o quinto sinal vital.
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