Pandemia Pandemônio

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o Sabiá,

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

          Estamos perante um inimigo invisível e silencioso, que avança cada vez mais em nossa direção, fazendo a vida se retrair, o cotidiano paralisar e as pessoas se afastarem umas das outras, mesmo nas localidades aonde ainda não há casos confirmados de infecção pelo vírus. Podem até subestimar a gravidade do problema, pensando que 7000 mortes pelo vírus é pouco, frente aos 7 bilhões de humanos, mas aquelas mortes não deixam de ser vidas que se perderam e que significavam muito para alguém, principalmente para quem as perdeu. De todo modo, o problema não são somente as mortes, que podem chegar à casa dos milhões, só no Brasil, dentro de seis meses, segundo alguns estudiosos, mas também as repercussões socioeconômicas do alastramento do vírus pelo mundo.

          Entendemos o sofrimento de você, que, doente ou não, está afastado de seus entes queridos, mas, já que estamos nos distanciando forçosamente, deveríamos tentar nos aproximar de Deus, ao menos, pois só Ele pode nos dar mais forças para superar tudo isso. Essas medidas de isolamento são realmente necessárias, para diminuir a circulação de pessoas nas ruas, os contatos interpessoais e barrar a transmissão da doença, até para tentar evitar o que houve na cidade americana de Filadélfia, em 1918, por exemplo, quando um desfile militar alusivo ao fim da Primeira Guerra Mundial reuniu milhares de pessoas e facilitou o alastramento da Gripe Espanhola naquela cidade.

          Como dito, temos a faca e o queijo na mão para vencer o Coronavírus, à médio ou longo prazo, pois há evidências robustas de que o isolamento das pessoas nos seus lares, por algumas semanas pode deter o vírus, embora seja menosprezado por alguns, que se mostram mais preocupados com a economia. Por isso, precisamos recuar e sair das ruas um pouco, para vencer esta guerra. Isso é algo que até as crianças conseguem compreender. Elas entendem que, se o vírus vier e não vir alguém no meio da rua para incomodar, ele vai embora.

          A COVID-19 é um efeito borboleta do que acontece do outro lado do mundo. No Brasil, ele apresenta um padrão curioso de disseminação tendo entrado com membros das classes mais favorecidas, que trouxeram o vírus, voltando de viagens ao exterior, e desceu a pirâmide social até os mais pobres e miseráveis. Os casos mais graves começaram a abarrotar os principais hospitais privados, até chegar aos hospitais públicos. Em Fortaleza, por exemplo, os primeiros casos surgiram nos ditos bairros nobres. Agora, o vírus está permeando o mapa da cidade, até chegar às periferias.

          De qualquer maneira, como disse um padre de Fortaleza, não há males que não venham para um bem. Esta pandemia conseguiu, por exemplo, evitar uma guerra quase deflagrada entre Estados Unidos e Irã, embora não tenha impedido de todo a continuidade da rivalidade e da troca de farpas entre os lados, mas seguimos esperando, por exemplo, que a maioria das pessoas mantenha o bom senso, neste momento tão delicado, evitando criar situações mais complicadas, para elas e para os seus, e que aquelas pessoas na iminência de jogar suas vidas no lixo repensem melhor suas decisões, diante de toda esse clima de conturbação social, que deve passar logo. Assim seja. Sus!

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