A chegada do vírus ao Brasil trouxe à tona o oportunismo de uns e o fanatismo de outros. Há alguns domingos, quando já se recomendavam o distanciamento social e a evitação de aglomerações, organizaram-se passeatas em defesa de uma determinada ideologia política, em diversas cidades. Alguns dias depois, organizaram-se panelaços, nas janelas das casas e dos apartamentos, contra essa mesma ideologia política. Em seguida, foi convocada, através das redes sociais, uma salva de palmas das janelas das casas e dos apartamentos, para os profissionais de saúde, assim como fizeram na Europa. Este gesto de respeito, solidariedade e empatia para com os profissionais da saúde destoa do que se viu, logo em seguida: a constatação de que profissionais de saúde sofrem agressões, quando tomam algum transporte coletivo, em São Paulo, quiçá por medo de contaminação dos demais usuários.
Talvez essa divergência de condutas dentro da mesma sociedade se deva, pelo menos em parte, às posturas conflitantes do presidente da República e dos governadores estaduais. Estes tomaram algumas atitudes um tanto precipitadas e enérgicas, porém necessárias, como determinar os fechamentos de estabelecimentos que vendem produtos e serviços considerados "não essenciais". Alguns deles chegaram a determinar fechamentos de aeroportos e de rodoviárias, nos seus respectivos Estados, usurpando competências de autoridades federais, o que seria, até certo ponto justificável. E o governo federal demorou a decretar estado de calamidade pública. Perceba que as medidas de enfrentamento da pandemia não têm sido coordenadas e uniformes, entre as esferas governamentais.
Paralisar os sistemas de transportes total e bruscamente, como alguns advogam, no intuito de reduzir ou cessar a circulação de pessoas e barrar a propagação do vírus, deve agravar o problema, porque muitas daqueles que fazem funcionar os serviços essenciais necessitam dos transportes de massa, para chegar ao trabalho. Com relação ao fechamento de aeroportos, rodoviárias e estações ferroviárias, os visitantes que aqui se encontram precisam voltar para suas cidades ou países e de que aqueles nossos moradores que estão fora também precisam voltar para cá. Neste momento, muitos brasileiros tentam retornar ao Brasil. Portanto, medidas assim precisam ser aplicadas com calma.
O poder público poderia ter evitado que o vírus entrasse no Brasil com a força que entrou, se tivesse se antecipado em estabelecer barreiras sanitárias como, por exemplo, submeter a um crivo mais rigoroso passageiros oriundos dos países que concentraram a maioria dos casos, fossem brasileiros ou estrangeiros, sintomáticos ou assintomáticos, aplicando testes rápidos em TODOS eles e encaminhando imediatamente para isolamento ou quarentena TODOS os positivos. Ou seja, se tivessem dedicado aos desembarcantes daqueles países os mesmos cuidados dispensados àquele grupo de brasileiros resgatado da China, talvez tivessem conseguido filtrar os primeiros casos da doença no Brasil e barrar a transmissão dela, e o poder público não teria de tomar agora medidas tão drásticas.
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