Reza a lenda que, em algum lugar do Oriente, quando uma mulher perdeu seu bebê recém-nascido, desesperada, ela procurou o monge mais sábio da vila, na esperança de que ele tivesse um remédio para curar da morte aquela criança. Ele disse que ela precisaria trazer a ele um grão de mostarda nascido numa casa onde ninguém houvesse morrido. Então ela saiu batendo de porta em porta, em todas as casas da vila. Ela não encontrou a casa que se enquadrasse no perfil descrito pelo monge, mas não se deu por vencida. Voltou ao monge e disse haver compreendido que o sofrimento não lhe permitia enxergar que ela não estava sozinha, pois ela não era a única pessoa a sofrer nas mãos da morte.
Como você sabe, o mês de setembro sempre cede espaço à campanha educativa Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio. Neste ano, a campanha está um pouco ofuscada, devido à Pandemia, mas ela não deixa de ser evocada, com vistas à criação de espaços para que as pessoas se sintam mais à vontade, para falar sobre os seus sentimentos. Entende-se a importância de campanhas como essa, mas até onde falar sobre os sentimentos é salutar? Quem estaria disposto a ouvir você, sem fazer julgamentos? O que ele faria com as informações obtidas? Quem ganharia com isso? Quem o ouvisse não se sentiria negativamente afetado, em seus próprios sentimentos?
Quaisquer que sejam as respostas para essas perguntas, talvez você chegue à conclusão de que compartilhar os sentimentos faz você enxergar que não está sozinho, porque outras pessoas sentem e sofrem, tal como você. Uma vez obtendo o sinal verde para falar de seus sentimentos, você poderia, por exemplo, falar dos dias ou semanas que parecem não ter fim, porque o tempo parece ter uma solução de continuidade, entre um período e outro. Quando você não relaxa e não dorme bem, de um dia para o outro, é como se eles se convertessem na mesma coisa. Você também pode dizer que muitas vezes, você tem dificuldades em encontrar um lugar para descansar a cabeça, um lugar onde você não precisa se sentir trabalhando 24 h por dia, um lugar onde ache carinho e compreensão, ao menos. Ou seja, você está buscando, basicamente, um lugar para chamar de seu e, nessa busca, você deve perceber que a empatia também faz muita falta no mundo, ou seja, a capacidade de compreender o que os outros sentem e do que seria estar nos lugares deles, ou pelo menos a compreensão de que não é uma questão de direito de estar ou sentir, mas que você simplesmente está onde está e sente o que sente, com ou sem explicação, e pronto. E vamos agora ao menos tentar dar um jeito nessa situação.
O ser humano quer que o tempo passe cada vez mais rápido, que os dias comecem e terminem logo. O ser humano teme a morte, mas corre em direção à ela, dia após dia, atravessando o tempo, como uma embarcação rasga as águas imediatamente adiante. O ser humano quer chegar logo ao melhor destino possível, mas quer ignorar que, para chegar lá, inevitavelmente, terá de atravessar o rio da morte no caminho. E só resta buscar a superação da morte em Cristo mesmo, que conhece TODOS os caminhos, indo e voltando.
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Muito bom amigo... suas palavras resgatadoras são alentos para as pessoas que se apresentam com pouca capacidade de pensar, amar e mudar (isso que está muito presente na mente sofrida)... como terapeuta e singelo escritor reconheço também o precioso valor da escrita como sublime agente transformador do sentimento de todos nós. Lembrando de uma filosofia de Platão que atribuia o comportamento humano a três ações básicas: desejo, emoção e sentimento. A escrita, forte e farta (que você usa no seu relato) jamais deve furtar do escritor esse nobre valor: o bem servir. Que todos os meses do ano sejam pintados por "baldes de tintas amarela"... como um chamamento, convite e alerta para auxiliar mentes sofridas, que algumas vezes estão invisíveis aos nossos olhos e se escondem e se enclausuram nos sentimentos de todos nós. Que sejamos felizes no caldeirão de buscas, vontades, relacionamentos pessoais e na própria boa essência de entender o que é o viver... plantemos sempre a maior razão do existir - vidAMORte - tudo de bom. FAZ BEM FAZER O BEM
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