Por esses dias, tem sido compartilhado comigo um pouco do que representam a morte e a vida, especialmente da primeira. Permita-me explicar: na última quarta-feira, soube, por meio de uma rede social, que um velho amigo que conheci, quando cursei veterinária, há mais de dez anos, antes de migrar para farmácia e depois para a medicina, havia falecido. Prontamente, dirigi-me ao local informado onde estaria acontecendo o velório, a fim de confirmar a veracidade da informação.
Infelizmente era ele mesmo, um rapaz quase um ano mais velho que eu. Conheci-o como um cara divertido e sociável. Não era muito íntimo dele e não o via, há onze anos, mas nunca imaginei que tornaria a encontrá-lo, naquela situação, inerte e aparentemente indefeso, frio e indiferente ao clima de pesar instalado ao seu redor. Não cheguei a chorar, mas foi de partir o coração, ver a dor dos pais dele. Conseguimos aceitar tacitamente a tendência natural e inexorável de que vamos sepultar nossos pais, cedo ou tarde, mas, ter que sepultar nossos filhos é um golpe traiçoeiro e doloroso demais. Tenho medo de imaginar meus pais, minha namorada e meus demais entes queridos passando por isto, como já devo ter confessado antes.
Enquanto a mãe chorava sobre o peito de seu filho, uma coisa que me chamou a atenção foi a presença, coincidente ou não, de uma réplica da famosa escultura Pietà, posicionada atrás do caixão, no altar da capela. A peça original foi esculpida pelo renascentista italiano Michelângelo, no século XVI, e retrata Santa Maria, segurando no colo o corpo de seu filho, Jesus Cristo, logo após ter sido retirado da cruz. Atualmente, a escultura se encontra na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Assim, Maria, Mãe de Jesus, considerada a Mãe das mães, muito reverenciada neste mês de maio, solidariza-se com todas as mães enlutadas que perderam seus filhos.
Tenho medo da morte, pelo processo de transição em si, que pode ser doloroso ou não, mas, de qualquer maneira, não estou pronto para ser apunhalado pelas costas e ver o mundo ao meu redor se apagar, definitivamente, sem nada poder fazer. Não estou pronto para ser arrancado deste mundo tão subitamente, deixando tanta coisa para trás. Na verdade, quase ninguém está. Não sei se você já percebeu, mas parece que somente sofrem com a morte de alguém aqueles que ficam. A pessoa que parte, quando chega ao outro lado, geralmente não vê o que se passa aqui. Quiçá esteja em situação melhor que a nossa. Há quem acredite que todas as almas estão latentes e despertarão apenas no dia do juízo final. Estas são algumas das diversas concepções sobre a morte, defendidas pelas mais diversas religiões, cada uma delas apresentando seus argumentos plausíveis.
Tive poucas perdas entre meus parentes e pessoas próximas. Conto nos dedos os velórios e enterros que frequentei. Apesar de ter lidado com cadáveres, em um laboratório de anatomia, e de ter visto pessoas falecerem, em alguns dos hospitais onde estagiei ou trabalhei, muitas vezes a ficha demora a cair. Leva algum tempo até me convencer, acreditar e aceitar que a morte chegou, está lá diante dos meus olhos e nada mais há a ser feito. Este é um calcanhar de Aquiles para todos os profissionais da saúde.
Tenho medo de morrer e de permitir que algum de meus entes queridos morra, pois não saberia o que fazer, em todos os sentidos. Além de não saber como seguir vivendo sem aquela pessoa, que, sem dúvida, deixaria um vácuo em nossas vidas, não saberia como proceder de imediato, no tocante aos trâmites legais e funerários, enfim, ficaria bobo, sem saber o que fazer com aquela pessoa, mesmo sendo um adulto e um profissional da saúde.
Enfim, querendo ou não, a morte está entre nós e não temos como ignorá-la. Ela faz parte do ciclo da vida. Enquanto uns partem, outros chegam. Como diz aquela canção "Encontros e despedidas", de Maria Rita, cujo clipe você confere, no final desta postagem, "são só dois lados da mesma viagem, o trem que chega é o mesmo trem da partida". Uma das poucas coisas que nos restam a fazer é rir um pouco da morte, assistindo ao humorístico "Pé na Cova", por exemplo, para tentar aliviar um pouco a seriedade do tema e a tensão que ele gera.
Com relação à vida, o que há de novo, em relação à vida, por esses dias??? Ontem foi aniversário do meu amigo Cleyton, o príncipe do petróleo, no sertão pernambucano, e também da Mariana, que se formou comigo, em Sobral, onde ela transitava quase sempre de bicicleta. Desejo a eles muita saúde com alegria de viver. Deixo aqui também, em homenagem à passagem do aniversário de ambos, uma canção de Frank Sinatra, que se eternizou há quinze anos. Uma de minhas preferidas, que ele gravou em dueto com Bono Vox, vocalista do U2. Confira I've got you under my skin.
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