Cena 1:
O sujeito era médico efetivo num município onde recebia pouco e se sentia muito explorado, até que se viu afrontado no trabalho, quando a nova secretária de saúde local chegou (des)tratando-o de um modo que mesmo sua esposa não costumava tratá-lo assim, gritando e reclamando que ele também estaria trabalhando noutro município, que não estaria cumprindo integralmente a carga horária preconizada pelo concurso público e que o acordo de cavalheiros feito com o secretário de saúde que o admitiu, para trabalhar lá por menos horas semanais, na prática, era uma imoralidade. Foi a gota de água, para que, no mesmo mês, ele pedisse exoneração daquele serviço público. E ele disse pessoalmente ao prefeito que não se sujeitaria a trabalhar mais do que já trabalhava pelo mesmo salário. Pesando os prós e os contras, ele viu que não valeria a pena manter vínculo empregatício de servidor público naquele município, com muitos encargos e pouca qualidade de vida. Ele precisava cortar os laços que o prendiam, para crescer profissionalmente e sobreviver.
Cena 2:
Semana passada, um menino de cinco anos de idade com síndrome de Down morreu, enquanto estava "internado" e aguardando leito, numa cadeira de um corredor de um hospital público, em Goiânia. Ele teria entrado com quadro suspeito de dengue, teria sido avaliado, medicado e posto em observação, até que, subitamente, sofreu uma parada cardiorrespiratória, que não foi revertida.
Por que o garoto morreu? Ainda não se sabe ao certo. Por que ele e tantas outras pessoas estavam sentados e "internados" nas cadeiras de um corredor? A culpa não foi de quem estava trabalhando no hospital. A culpa foi do sistema. A demanda é imensa, e o sistema não se rearranjou devidamente para prover a devida cobertura ao público requisitante. Depois de 30 anos de SUS, na saúde pública, ainda falta muita coisa. Falta espaço. Falta infraestrutura. Falta mão de obra. Faltam recursos. E falta vergonha na cara de alguém, às vezes. Nada mais triste que a morte de uma criança. Parece que a vida parou de vez. Aos familiares do pequeno, só restam a dor e a revolta.
Cena 3:
Entende-se que segurança pública é uma necessidade e um dos maiores clamores do povo brasileiro, mas não se justificam investimentos tão vultuosos e questionáveis nessa área, em detrimento de outras, como acontece em Juazeiro do Norte, por exemplo, onde investiram uma soma extraordinária para a compra de apenas quatro viaturas da Guarda Municipal.
Comparando as três situações apresentadas, fica difícil saber qual delas é verdadeiramente uma imoralidade.
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