Novembro de 2020 foi um mês atípico, sendo mais sobrecarregado negativamente, como um céu coberto de nuvens cinzentas, mais que o habitual, principalmente para aqueles cujos caminhos se cruzaram com os do vírus. Uns se comportaram como os feixes de luz que, sendo independentes, se intercruzam invictos. Outros saíram bastante combalidos desses encontros. E houve quem, simplesmente, não seguiu adiante. Agora que o tempo nos permite e estamos diante de circunstâncias mais propícias e amenas, permita que lhe contemos uma dessas histórias.
Num final de semana, sendo médico psiquiatra, o sujeito resolveu se automedicar e experimentar um antidepressivo e um estabilizador de humor de seu estoque de amostras grátis, a fim de tentar amenizar sua ansiedade e sua irritabilidade do cotidiano. Parece que a mistura não caiu muito bem. Além de ter se sentido muito sonolento, ao longo do dia, ainda ficou com as pálpebras de um dos olhos edemaciadas, o que indicaria uma reação alérgica a um dos medicamentos. Logo, ele os suspendeu. Mesmo assim, notou-se que o esmorecimento só aumentava e veio acompanhado de sensação de fraqueza. Não tardou que surgissem alguns picos febris acompanhados por dores de cabeça e por calafrios. Depois veio a insônia noturna, mesmo se sentindo sonolento. Ele não chegou a sentir falta de ar ou qualquer outro sintoma respiratório mais grave. Sua saturação de oxigênio estava normal.
Ele estava numa situação confortável, se comparada à situação de um amigo seu, também médico psiquiatra, que estava em estado grave e que precisou ser internado numa UTI. Entretanto, ele se percebeu um pouco mais deprimido que o habitual. Seu apetite diminuiu. Consequentemente, passou a comer bem menos. Ficou desanimado e desmotivado para fazer coisas simples que poderiam ser feitas dentro de seu próprio quarto, com um computador em mãos, como fazer consultas remotas e receitas digitais e escrever pra seu blog, por exemplo. Não chegou a pensar na morte, nem temê-la. Até porque ainda não entendia plenamente o que lhe estava acontecendo, não tinha certeza de que pudesse estar com aquilo que estava pensando e seu estado não era grave como o do amigo. Por essas e outras, a colega infectologista que o atendeu disse que ele, na verdade, precisava também de um médico psiquiatra para ele, o quanto antes, mais do que qualquer outro especialista. Ao longo de duas semanas, ele realizou diversos exames, mas somente o mais tardio, quando ele já estava se sentindo melhor e resolvido a sair para trabalhar, pelo menos, acusou que ele fora mesmo tangenciado pelo vírus. E ele conseguiu sair também para votar, no primeiro e no segundo turnos eleitorais, tentando dar um apoio moral ao seu candidato, pelo menos.
Em resumo, o encontro entre o sujeito e o vírus foi muito mais suave e fugaz que uma luta de UFC, mas também deixou algumas marcas, mais psicológicas do que propriamente de outra ordem. O sujeito levou e ainda deve levar mais um tempo para se restabelecer e retomar suas atividades habituais, que vão desde escrever até treinar corrida de rua.
O ar estava pesado ao redor do sujeito. Muita gente estava se comportando como se estivesse confundindo Black Friday com Halloween, o que pode ter contribuído com novos aumentos dos casos de COVID-19, urbi et orbi, obrigando governos a retroceder nas medidas de reaberturas da economias. Isso também pode se explicar porque, por experiência própria, você percebeu que o mesmo respeito que você tem por outras pessoas nem sempre foi recíproco.
Novembro foi um mês difícil para muitos. Seu final foi ansiosamente aguardado e desejado por todos. O final de novembro coincidiu, mais uma vez, com o final do ano litúrgico católico, por sinal, um ano litúrgico atípico, de igrejas fechadas por meses, com celebrações à distância. Assim, a humanidade ingressa em mais um período de Advento, sempre na expectativa de algo novo, como se fosse um ventre em contrações para um parto, principalmente agora, quando as vacinas que podem nos imunizar contra o vírus parecem mais próximas de nossas mãos, e nos apegamos à esperança de que elas venham nos libertar.
De todo modo, tenhamos ânimo. Tempos melhores virão, cedo ou tarde. Por ora, saudemos hoje o casal Tony Harrison e Élida Janne, pelo seu aniversário de matrimônio. Saúde, sucesso, felicidade e vida longa ao casal e à família.
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