No meio do caos gerado por esta pandemia, quando TODOS praticamente estão com suas vidas parcial ou totalmente paralisadas, o psiquiatra Tony Harrison, por meio da carta a seguir, que foi divulgada nas redes sociais, em versão simplificada, procurou chamar a atenção para outra situação dramática que já assola a humanidade, constante e insidiosamente, há mais tempo, mas que parece estar ofuscada, embora mais acentuada, considerando que as pessoas estejam sofrendo mais, embora silenciadas e reclusas:
"Prezados e prezadas, saudações,
Meu nome é Tony Harrison, sou médico psiquiatra, moro e trabalho em Fortaleza (CE) e adjacências, onde presto suporte, em regime de sobreaviso, aos hospitais de uma operadora de planos de saúde. Não estou aqui para deixar mais uma daquelas mensagens alarmistas sobre a pandemia que já circulam nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens. Minha mensagem vai especialmente para você que está experimentando alguma dor, seja ela física, psíquica ou espiritual.
Faço-lhe um apelo, não apenas como médico, mas também como cristão e ser humano. Mais do que nunca, pelo que há de mais sagrado, tente se controlar, se acalmar e rezar, se tiver fé. Por favor, não apele para soluções, entre aspas, extremas e irreversíveis para seus problemas, principalmente nestes dias. Entendo que você está sofrendo, mas procure abrir seus olhos, seus ouvidos e sua mente. Olhe ao seu redor e escute. Observe que seus entes queridos mais próximos também estão sofrendo, de uma forma ou de outra, com as privações inerentes à pandemia e ao isolamento, e também já sofrem de preocupação com você e com a sua saúde. E eles sofreriam mais ainda, só em pensar na falta que você lhes faria.
Nas emergências médicas, os profissionais de plantão não conseguem dar as devidas atenções a todas as pessoas que lá comparecem, não por má vontade deles, mas porque eles estão ocupados, dentro de um ambiente atribulado e potencialmente infectante, priorizando a assistência aos casos mais graves de uma síndrome respiratória aguda grave e provavelmente decorrente da infecção pelo Coronavírus. Quem necessita de um leito de UTI tem de entrar numa fila de espera e disputar uma vaga com pacientes acometidos pela COVID-19. Por isso, visito esses locais com frequência, auxiliando meus colegas médicos a lidar com eventuais intercorrências psiquiátricas.
Algumas atitudes na vida ainda podem ser evitadas. Tente manter a calma e o controle. Evite a solidão. Mantenha-se em contato com alguém de confiança, dentro de suas possibilidades, mesmo que à distância. Evite tomar caminhos sem volta, para você, sua família e sua comunidade.
Não deixe de observar os cuidados básicos de higiene já exaustivamente recomendados pela mídia, cuidados simples, que podem fazer a diferença. Saia de casa, apenas em situações de extrema necessidade, como: trabalhar, quando não for possível trabalhar em home office, comprar remédios, alimentos ou outras provisões essenciais, quando não for possível fazê-lo pela internet ou por telefone, socorrer os mais necessitados que estiverem sem suprimentos ou com problemas de saúde em casa e se você ou algum familiar apresentar algum quadro agudo e grave de saúde e não puder contar com a presença à curto prazo de uma ambulância no local como, por exemplo, um surto psicótico ou um ataque de pânico, quando não houver recursos disponíveis por perto para sanar tais problemas, qualquer atentado contra a integridade física de uma vida, uma suspeita de infarto cardíaco ou de um AVC ou uma falta de ar associada a outros sintomas gripais e que levantem a suspeita de infecção pelo Coronavírus, obviamente.
Se sair, tente usar uma máscara, mesmo que seja caseira. Mantenha uma distância segura de outras pessoas, evitando falar muito perto delas e evitando também aglomerações. Cubra o rosto, ao tossir ou espirrar. Evite tocar frequentemente o rosto com as mãos, principalmente se elas não estiverem limpas. Procure higienizar suas mãos, sempre que possível, preferencialmente lavando as mãos com água e sabonete, ou pelo menos esfregando-as bem com álcool em gel, se tiver.
Se você precisa manter o uso contínuo de psicofármacos, ou seja, de medicamentos neurológicos e psiquiátricos cujas dispensações são condicionadas às apresentações de receitas de controle especial, remédios essenciais para o controle de sua doença, e eles estão em falta em suas mãos, muitos colegas médicos estão realizando consultas on line, em distintas plataformas. Procure-os, nos sítios de busca e nas redes sociais, e veja se eles podem ajudar a resolver seu problema, o mais breve possível.
Se você por acaso estiver desmotivado ou desmotivada em continuar vivendo, com ou sem medo da pandemia, você pode, e deve, procurar também entidades que prestam suporte emocional, como a sua igreja, se você tiver uma e ela disponibilizar algum suporte remoto, ou o CVV, atráves dos telefones (85) 3257-1084, para Fortaleza e área metropolitana, ou 188, que é gratuito, para todo o Brasil. Só não vale se abandonar sem assistência alguma.
Muito obrigado pela atenção. Mantendo a fé, o foco, a calma, o controle e os cuidados essenciais conosco e com aqueles que dependem de nós, que Deus nos ajude a superar bem e logo esta fase".
"Desde que começou o isolamento, em Fortaleza, tenho notado que as ocorrências psiquiátricas que chegam às salas de pronto atendimento da rede de hospitais que eu sirvo diminuiu, por incrível que pareça. Já houve dias em que não tivemos registro de ocorrência alguma. Quando houve, eram uma ou duas, raramente mais que três. Mesmo assim, não deixam de ser ocorrências graves, em sua maioria tentativas de suicídio, que ainda estão num patamar preocupante. E isso sem contar a demanda reprimida de pessoas que têm transtornos mentais graves, estão impedidas de sair de suas casas, sem remédios e sem receber qualquer tipo de assistência psiquiátrica regular, porque a maioria dos serviços de saúde ambulatoriais, ou seja, que fazem consultas médicas regulares, agendadas e eletivas, está com os atendimentos suspensos, a fim de evitar aglomerações. Portanto, se eu conseguir tocar a vida de alguém e fazer a diferença pra ele ou ela, com minhas palavras, já me sinto muito gratificado".
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