Não nos propomos a falar sobre aquela moça que acaba de completar suas quinze primaveras e, além de ganhar um daqueles bailes de contos de fadas, dançando uma valsa com um cadete de uma escola militar, ainda quer ir farrear na Disneylândia, como se criança ainda fosse. Desta feita, nos propomos a conversar com e sobre aquele que está debutando na política partidária, seja ele um cidadão comum e intrigado com os problemas da sociedade que espera resolvê-los participando mais ativa e diretamente na política ou uma pessoa pública que deseja promover ainda mais a sua imagem.
Anos eleitorais como este são terrenos férteis para o surgimento de novas safras de debutantes na política. A maioria entra no jogo de forma ingênua e amadora, despreparada, com pouco a investir e a oferecer e sem conhecer ao certo o terreno onde pisa e o adversário. A maioria compete apenas por competir, sem levar muito à sério a competição, apenas de forma lúdica, assim como acontece em maratonas como a tradicional Corrida de São Silvestre, sempre em 31 de dezembro, nas ruas do centro de São Paulo, por exemplo.
Entretanto, nem tudo está perdido. Ainda há quem leve o negócio à sério. É quando o sujeito se põe a refletir sobre o que acontece no seu meio e resolve tentar fazer a diferença. Quer ter acesso à tribuna de um parlamento para extravasar críticas, dúvidas e necessidades suas e daqueles que se propõe a representar. Ou seja, ele quer fazer carreira na política com as melhores intenções, todavia ele precisa saber que chegar lá não é tão fácil como parece. Não basta conquistar a aparente simpatia de seus vizinhos. Não basta ser estimado em seu condomínio, sua rua, seu bairro, seu trabalho, sua igreja ou sua cidade, embora isso seja importante, conforme o degrau que deseje alcançar. Ele precisa também dos apoios moral e logístico de alguém, além de recursos financeiros, obviamente. Se não quiser cometer o desatino de comprar votos diretamente de seus eleitores em potencial, terá de fazer concessões. Umas são aceitáveis, até certo ponto. Outras, no mínimo, são moral e eticamente questionáveis e podem contundir ou arranhar reputações, se descobertas. O novato na política precisa de um certo jogo de cintura para costurar acordos e alianças, tentar agradar ao maior número possível de pessoas e obter o maior apoio possível, sem se comprometer além da conta e dentro dos limites da legalidade, ou seja, sem se corromper.
Dizem que político trabalha pouco e ganha muito. Não é bem assim. Prepare-se para trabalhar mais que o convencional. Haverá épocas em que você só precisará trabalhar alguns dias por semana, pelo menos nas semanas em que estiver trabalhando. Até porque tem direito a dois recessos por ano, mas, na maior parte do tempo, você terá reuniões com outros políticos, no desjejum, no almoço ou no jantar, mesmo nos finais de semana e feriados, participará de sessões extensas e maçantes nos plenários das casas legislativas em que se encontrar, em votações de projetos de lei que entram pela madrugada, e terá que acordar cedo para pegar um avião e sobrevoar o Brasil pelo menos duas vezes por semana, geralmente com passagens pagas indiretamente com dinheiro público, dependendo de onde mora e das missões políticas para as quais for designado. Essa será sua vida, se você for um deputado ou um senador.
Veja também, à guisa de exemplo, a rotina do presidente da República, que, a depender do momento que o país esteja vivenciando, como na greve dos caminhoneiros, por exemplo, precisa se reunir com seus ministros, a qualquer dia ou qualquer hora, e conceder entrevistas coletivas à imprensa, ou mandar seus assessores fazê-lo. Eventualmente, recebe outras lideranças para um almoço ou um jantar em sua residência oficial. E foi numa dessas que ele quase se deu mal, porque a reunião teria sido gravada é apresentada por alguém que quis livrar a própria cara. De qualquer forma, como se vê, o presidente da República não tem muito sossego. Está sempre trabalhando e vivendo em função do cargo, de domingo a domingo.
Enfim, quem quiser entrar de cabeça na política fique sabendo que sua vida e de sua família não serão mais as mesmas. Ele está sujeito a uma hiper exposição moral e midiática. Quanto mais exposto, maiores as chances de se molhar na chuva, de se queimar debaixo de sol, de se arranhar e de se machucar. Porque, na política, é mais fácil fazer inimigos do que fazer amigos.
Tenha uma boa semana.
Tenha uma boa semana.
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