Os caminhoneiros do Brasil, além de taxistas, motoristas de aplicativos, mototaxistas e motoboys de algumas cidades, tiveram a coragem e a ousadia de fazer algo que os demais brasileiros não têm demonstrado ultimamente: fazer frente, diante das arbitrariedades perpetradas pelo governo, cruzando os braços, deixando de transportar mercadorias e fechando algumas vias.
Os recorrentes, abusivos e absurdos aumentos nos preços dos combustíveis, num país que, até bem pouco tempo, se proclamava autossuficiente em produção de petróleo, aumentos que repercutem em mais aumentos no custo de vida, estão beirando o intolerável e inviabilizando cada vez mais a sobrevivência, principalmente dos mais pobres. Os caminhoneiros também são diretamente afetados, porque têm cada vez mais despesas com óleo diesel, para rodar por estradas com asfaltos em péssimas condições, sem segurança e ainda tendo que pagar pedágios. Como a maioria das mercadorias circula pelo país por via terrestre e rodoviária, esse conjunto de adversidades influencia nos preços finais aos consumidores das mercadorias.
A imprensa deu bastante enfoque à falta de combustíveis nos postos automotivos e nos aeroportos das principais cidades, além da redução da circulação de transportes coletivos e escolares e da falta de alimentos, que foram as principais consequências da paralisação dos caminhoneiros. Entretanto, eles se esqueceram de mencionar que muitas comunidades do sertão dependentes de carros-pipa devem estar sem água. Ou porque os carros-pipa aderiram à paralisação ou porque eles também precisam de óleo diesel para rodar, o qual já chegou a faltar por completo, em muitas cidades do interior.
Eles podem não ter conseguido ver todas as suas reivindicações atendidas, mas pelo menos conseguiram parar o país, quase que por completo. Eles conseguiram mais que uma irrisória redução no preço do óleo diesel. Conseguiram chamar o povo brasileiro a exercitar a arte do improviso (houve quem comprasse álcool de farmácia para substituir o álcool ausente dos postos) e a refletir sobre nossa situação de mediocridade. Porque o Brasil já é um país caro e perigoso demais para se viver. Pode até ter havido algum oportunismo de algumas partes, por trás dessa paralisação, que, em princípio, trouxe mais transtornos à população que ganhos, mas somente assim para conseguir mudar alguma coisa neste país. Porque nunca antes na história deste país o brasileiro experimentou uma prévia do apocalipse como nas últimas semanas. E a vida continua, com ou sem gasolina.
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