O livro Sem Rumo, publicado pela escritora Liliane Prata, em 2014, apresenta a vida de um cidadão comum paulistano de classe média, no início da década de 1980, quando o Brasil e o mundo foram tomados de surpresa pelo surgimento de uma nova doença conhecida como AIDS, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), em português. Aquela história mostra como pessoas viviam despreocupadas, por vezes adotando no dia a dia comportamento promíscuos e moralmente reprováveis, até se darem conta dos perigos a que estavam expostas. Apesar de que outras doenças infectocontagiosas e sexualmente transmissíveis já eram conhecidas à época, como a sífilis e a gonorreia, por exemplo, não havia a mesma dedicação à prevenção e ao tratamento delas como vemos agora. Em princípio, acreditava-se que a AIDS era uma doença circunscrita a um determinado grupo de pessoas. Entretanto, na medida em que foram surgindo, aos poucos, novos conhecimentos sobre a doença, como o agente etiológico, as formas e as circunstâncias de transmissão e seus possíveis danos à longo prazo, por exemplo, e novos casos dela surgiram onde menos se poderia esperar, as pessoas em geral ficaram mais apreensivas, principalmente quando começaram a ver seus lares sendo invadidos por um vírus novo e pessoas próximas adoecendo e morrendo por aquela enfermidade.
A humanidade viveu um estado de apreensão e de cuidados um pouco parecido com o que vivemos atualmente, dentro da Pandemia de COVID-19, causada pelo novo Coronavírus, porém com as devidas proporções. A disseminação do vírus HIV mundo afora se processou de modo mais longitudinal, ao longo da linha do tempo. Assim, o HIV demorou mais tempo para causar efeitos parecidos com o Coronavírus, pelo menos do ponto de vista epidemiológico. Não há registros de que localidades tenham chegado a decretar lockdown, para tentar barrar o avanço daquele vírus, por exemplo. Até porque se tratam de vírus distintos, com mecanismos de ação distintos, que cursam em doenças com fisiopatologias e prognósticos distintos, muito embora as poucas semelhanças entre os vírus tenham dado aberturas às possibilidades de que alguns dos medicamentos usados no tratamento da infecção por um deles pudesse servir para o tratamento da infecção pelo outro. O fato é que, embora um desses vírus seja potencialmente letal, à curto prazo, para ele, há a possibilidade de cura, e cabem vacinas para contingenciar sua disseminação. Para o outro vírus, por ora, cabem apenas a prevenção de novas infecções por outros meios, que não as vacinas, e o controle de seu crescimento e a sua manutenção em "hibernação", dentro de um corpo.
Apesar de a humanidade ainda não ter superado de todo a epidemia da AIDS e estar agora imersa numa nova Pandemia, temos que admitir que avançamos muito, cientificamente falando, pelo menos, o que, teoricamente, nos trouxe recursos para que possamos evitar danos maiores à vida. Neste 1º de dezembro de 2021, cerca de quarenta anos após os surgimentos dos primeiros diagnósticos da doença e cerca de trinta anos após a morte de um dos maiores nomes da história do rock'n'roll, não custa lembrar que a prevenção ainda é o melhor caminho. Todos os tratamentos disponíveis, por mais avançados que sejam, ainda são voltados apenas para o mesmo objetivo, que é reduzir ao máximo a carga viral no organismo, consequentemente, reduzindo significativamente os riscos de o vírus causar danos naquele organismo e de se disseminar para outros organismos. Entretanto, nenhum deles, até o momento, se mostrou hábil em eliminar o vírus integralmente de um organismo, culminando assim na cura da infecção. Alguns casos contáveis nos dedos de cura da infecção pelo HIV foram documentados, ao longo dos anos, mas aquelas curas se processaram em consequências de métodos terapêuticos experimentais caros, radicais e pouco executáveis na prática, do modo mais amplo. Em Deus, tudo é possível. Se casos de cura da raiva humana já foram documentados, mundo afora, inclusive no Brasil, apesar de possíveis sequelas, porque não poderia haver mais curas da AIDS, um dia???
Se você já era nascido(a), nos anos 80, você correu algum risco de ser infectado(a), por menor que fosse aquele risco. O vírus chegou às vidas de muitas pessoas de formas diversas e inusitadas. Crianças que nasceram à época foram infectadas por seus pais. Pessoas que receberam transfusão de sangue à época, por motivos diversos, foram infectadas. Tudo por conta das faltas de informações e de recursos suficientes para lidar com aquela situação. Se você não se enquadrou em algum daqueles contextos, então você é um(a) sobrevivente.
+++++
Nenhum comentário:
Postar um comentário