Na Grécia Antiga, acreditava-se que o corpo humano fosse constituído, na sua maior parte, por quatro principais substâncias, os quatro humores: o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile escura. O sangue sairia do coração. A fleuma, do cérebro. A bile amarela, do fígado. E a bile escura, do baço. Atribuía-se cada tipo de personalidade ou de estado de espírito à predominância de um daqueles humores num organismo. Acreditava-se que as doenças seriam consequências de desequilíbrios nas proporções entre aqueles humores num organismo, conduzindo às medidas terapêuticas de tentar eliminar ou de tentar repor os humores que supostamente estivessem em excesso ou em falta, respectivamente. Aquela teoria dos quatro humores ainda norteou a medicina, por mais de mil anos após a passagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em tempos de festas de final de ano, ninguém precisa ser especialista para perceber que as manifestações de depressão se tornam mais evidentes que o habitual. Ou porque pessoas estão em dificuldades financeiras, ou porque pessoas perderam seus entes queridos, principalmente noutras épocas como esta, ou porque pessoas estão se sentindo sozinhas ou simplesmente porque pessoas não têm motivos aparentes para estar se sentindo deprimidas. Apenas estão.
Por vezes, a depressão é percebida como uma sensação estranha e difícil de descrever com palavras. Talvez a explicação que mais se aproxime do real é que a pessoa sente como se os níveis de uma substância ou de um fluido qualquer despencassem vertiginosamente, dentro de si. Aqui, inevitavelmente, relembramos aquela teoria dos quatro humores. Hodiernamente, é sabido que o humor ou estado de espírito da pessoa não é regulado por grandes quatro humores, mas por neurotransmissores moleculares que agem na intimidade das células, principalmente dos neurônios.
É até uma sensação esquisita. Por mais que o trabalho esteja leve, que o meio ao redor esteja em paz, e que todos à sua volta estejam bem, por vezes, inevitavelmente, você acaba se sentindo borocoxô, como se diz no nosso linguajar popular regional. Quando, dentre aqueles humores, predominam dentro de si os mais quentes, você pode até se sentir mais alegre e disposto a fazer alguma atividade física, por exemplo, mas também pode se sentir mais ansioso, mais raivoso, mais desesperado ou até mesmo mais psicótico. E quando predominam os humores mais frios, você pode até se sentir mais calmo, mas também pode se sentir mais triste. É como diria o filósofo, "tô feliz, mas tô triste".
Enfim, quem somos nós para nos estendermos explanando sobre história da medicina, além de teorizar e filosofar sobre a depressão, não é mesmo? Como diria um outro filósofo, é hora de cada um se recolher novamente à sua insignificância e celebrar, dentro do possível. Pelo menos, por enquanto.
KKKKK
Nenhum comentário:
Postar um comentário