Nestes primeiros 90 dias do ano, foi constatado um aumento significativo no número de invasões de grandes propriedades rurais, antigamente chamadas de latifúndios, em relação aos anos anteriores. Ao todo, foram oficialmente computadas pelo menos 13 ocupações, somente nestes três primeiros meses, uma quantidade maior que a de anos anteriores. A oposição acusa o governo de conivência com as invasões. O parlamento responde, sinalizando uma possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar o principal movimento de ativismo social que instigaria aqueles atos.
Coincidência ou não, acaba de ser nomeado para a superintendência estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no Ceará, um ex-militante de um movimento social supostamente envolvido naquelas ocupações de terras, consideradas por eles como "improdutivas", reivindicando, teoricamente, a implementação da tão falada reforma agrária no Brasil, um grupo de manifestantes outrora vistos como "vítimas" ou "pobres coitados", lutando aparentemente por uma causa justa, especialmente após o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em abril de 1996, quando muitos deles morreram, em confronto com tropas da Polícia Militar, durante a ocupação de uma estrada da região. Alguns anos depois, o mesmo grupo, não necessariamente composto pelas mesmas pessoas, invadiu uma fazenda pertencente à família do então presidente da República, o sr. Fernando Henrique Cardoso (FHC), em seu último ano de sua última gestão, antes de entregar a faixa presidencial ao presidente atual.
Fato curioso é que ninguém considera essas invasões de propriedades rurais, sejam quem forem os donos das terras e por mais que haja alguma depredação significativa do patrimônio e, até mesmo, alguma ameaça à integridade física de alguém, como "terrorismo", tampouco chama aqueles militantes de "terroristas". Embora alguns deles até já tenham sido presos, nenhum deles foi levado à Brasília, julgado pela Suprema Corte e jogado num daqueles campos de concentração improvisados por lá.
Aquele episódio ajudou a inspirar, em parte, o enredo da novela O Rei Do Gado, estrelada por Antonio Fagundes, Patrícia Pillar (foto) e grande elenco, lançada naquele mesmo ano e sendo atualmente reexibida pela TV Globo. Naquela época, aqueles ativistas agrários eram como o jovem guerreiro Davi brigando com o gigante Golias, e contavam, por isso, com uma simpatia popular significativa. O mesmo não se pode dizer, atualmente, apesar de estarmos sob a égide de um governo que, aparentemente, é simpático às causas deles e da maioria da população e apesar de eles fazerem, de um modo ou de outro, seus interesses serem devidamente representados, junto ao governo. Seriam esses interesses representados os mesmos em favor do bem comum e da coletividade???
A melhor saída seria cada um tentar compreender a importância de seu trabalho, ter seu devido espaço para trabalhar e saber respeitar o espaço alheio. É interessante compreender também que o agronegócio não deixa de ter um papel essencial, na manutenção da sustentabilidade da economia nacional, haja vista o Brasil, direta ou indiretamente, ainda depender significativamente da renda auferida pela exportação de produtos agrícolas. Isso é um fato inegável.
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