Como dito, há exatos 70 anos, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deveria servir como diretriz para que as nações signatárias tratassem todos os seus cidadãos com um mínimo de educação, cortesia e dignidade, fossem quem fossem, independentemente das circunstâncias e das culturas. Mas, e os direitos dos animais? Quem os defende? Porque muito humanos querem ser tratados com humanidade, mas querem tratar os animais, e até mesmo outros humanos, com animalidade. Você também deve ter se chocado com uma notícia sobre um cachorro assassinado por um vigilante de um supermercado em Osasco (SP).
A peça teatral O Auto da Compadecida começa com o drama de um casal de pequenos comerciantes de uma cidade do interior, que não consegue salvar a vida da cadelinha de estimação doente, porque não consegue que o vigário da paróquia local abençoe o animal, ainda em vida, mas consegue que o mesmo abençoe o animal já morto e lhe celebre uma missa de sétimo dia, depois que um empregado esperto inventa que a cachorrinha teria deixado um testamento prometendo parte de sua herança para o padre. Tempos depois, chega à cidade o bispo da diocese local, a fim de averiguar o fato. Ele diz que o padre cometeu simonia, que é a comercialização indevida de sacramentos, de indulgências ou de cargos religiosos. Entretanto, ele também se empolga e muda o tom do discurso, quando lhe dizem que a cachorrinha o teria incluído também como beneficiário no testamento. Então, ele abre precedente para que a finada canina também seja contemplada com as mesmas orações que um finado humano.
A obra referida, que foi escrita na década de 50 do século passado, por Ariano Suassuna, e exaustivamente adaptada para a literatura, para a TV e para o cinema, trouxe uma reflexão moral sobre a religiosidade de aparências dissociada da espiritualidade e sobre a corrupção presente em todos os contextos, mediante certas circunstâncias, que, por vezes, nos leva a dar o velho jeitinho brasileiro de resolver problemas nossos e dos outros. Além disso, ela também fez refletir sobre a importância dos animais domésticos de estimação em nossas vidas. Por isso que estamos fazendo referência a ela, nesta postagem.
Há pessoas que estabelecem com seus animais vínculos afetivos que, muitas vezes, não são capazes de estabelecer com outras pessoas, e as presenças desses animais nos lares ajudam a preencher vazios. As perdas desses animais costumam ser, para essas pessoas, tão contundentes quanto as perdas de entes queridos humanos. Quem está de fora precisa manter o devido respeito pelos sentimentos alheios de quem estiver sofrendo a perda de um animal doméstico, como se fosse a perda de um parente.
Todas as formas de vida precisam ser amadas e respeitadas, dentro dos limites possíveis do bom senso. Você soube, por exemplo, de um bandido que foi abatido pela polícia, por esses dias, enquanto tomava uma idosa como refém. Os policiais que atenderam à ocorrência foram cumprimentados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Noutro contexto, o bandido seria canonizado, e os policiais, indiciados por homicídio. Uma vida insignificante de um ser nefasto e dispensável para a sociedade precisou ser sacrificada, em favor de uma vida inocente. Essa é a realidade, infelizmente, e espera-se que alguém consiga mudá-la, ou amenizá-la, pelo menos.
Mark Chapman, assassino confesso do ex-Beatle John Lennon, segue preso por aquele crime, há quase quarenta anos, sem conseguir liberdade condicional. Teoricamente, o caso dele tem servido de exemplo para que outras pessoas aprendam o valor da vida humana e a respeitem.
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