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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O médico e o monstro 9


Há cerca de um mês, estou me coçando para sentar, pensar e escrever uma reflexão, motivada pelo fato de estar completando dois anos de formado em medicina. Tenho muito a dizer sobre esse meu humilde tempo de experiência. Vou começar falando sobre um ponto interessante em meu perfil que notei, mais recentemente, e que me fez pensar bastante.


Um dia desses, resolvi deixar o cabelo crescer, haja vista que tenho tendência a ficar careca como meu pai, além da falta de tempo e de saco para ir atrás de alguém que corte bem o meu cabelo e por um preço aceitável. O problema é que este meu cabelo é muito rebelde. Para tentar alinhá-lo e deixá-lo bem assentado na cabeça, me vejo obrigado a, diariamente, aplicar gel cola. Pois bem, fazia a aplicação, deslizando as mãos para baixo e para os lados, partindo o cabelo ao meio. Minha mãe e uma de minhas irmãs acharam que o cabelo ficou feio, desse modo. Mamãe disse que eu parecia um daqueles médicos do início do século XX. Meus amigos disseram que meu cabelo parecia um daqueles blocos de macarrão instantâneo, porque, quando ele começa a enxugar, os fios começam a se agrupar, formando filamentos grossos e retorcidos.


Eu diria mais. Observando melhor, acho que eles têm razão. Não apenas os médicos, mas os homens em geral, do início do século passado, tratavam seus cabelos bem daquela maneira, à base de gomalina, deixando-os bem alinhados e brilhosos. Observando melhor, acho que, naquelas ocasiões, fiquei mesmo bastante parecido com o escritor Oswald de Andrade.    


Invejo os homens do passado, não apenas pela elegância no figurino, mas também pela elegância e a coragem com que lidavam com a vida, numa época de parcos recursos financeiros e tecnológicos. Com a evolução, se, por um lado, ganhamos em qualidade de vida, por outro lado, também perdemos em qualidade de vida, porque havia mais respeito e mais amor pela vida humana. Hoje, me pergunto se não seria melhor se Jesus Cristo viesse logo restabelecer a ordem e a justiça, haja vista que poucos ainda se importam com as consequências de seus atos. Avançamos, por um lado, ganhando liberdade, retrocedemos, por outro lado, nos aprisionando.

Invejo os médicos do passado, porque eles tinham mais coragem, mais sabedoria e mais disposição para o trabalho. Mesmo os médicos especialistas, ou pelo menos em vias de especialização como eu estou agora, não se faziam de rogados e metiam a mão na massa mesmo. Eram paus para toda obra. Me sentiria um molenga ingênuo, na frente deles. Tudo bem que talvez o doutor Eugênio Fontes, protagonista do romance "Olhai os lírios do campo", não sobrevivesse na profissão médica, se fosse trazido para nosso tempo atual, mas eu, com certeza, não sobreviveria, se fosse transladado para sua época, como bom filho que sou desta geração acomodada e mal acostumada aos recursos tecnológicos, partindo de um dos princípios de doutor House, segundo o qual, as pessoas sempre mentem. Depois conversamos mais sobre isso.  


Não espero que você me tome por saudosista de uma época que não vivi, mas tenho a ligeira impressão de que, não apenas os médicos, mas as pessoas em geral saíam das escolas e das universidades com melhores formações técnica, ética, moral, espiritual e humana. Conversamos mais sobre isso noutra ocasião.


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