Como já devo ter dito antes, respeito todo mundo, no ambiente de trabalho. Não faço discriminação. Gostaria que me respeitassem também e que parassem de me fazer de besta, me pegando para saco de pancadas. Até porque, como já devo ter dito antes, existem cerca de oito mil médicos atuando nesta cidade, e, em geral, não sou o único médico que transita pelos lugares onde atuo. Então, por que eles só sabem esperar por mim, para que eu apague os incêndios deixados pelos outros???
Da minha parte, digo que estou sempre disposto a servir, dentro de minhas possibilidades. Cumpro meu dever, atendendo a todos que me procuram, sistematicamente. Procuro não deixar que saiam de minha presença com as mãos vazias. Não é necessário que venha alguém com choradeira no meu pé do ouvido para que eu faça meu trabalho. Isto é irritante e, em geral, só acontece comigo, nos locais onde trabalho. Mesmo assim, não é incomum travarmos diálogos como o seguinte com companheiros (as) de trabalho que sempre acham que estamos folgados, que pensam em usar de suas influências para sempre encaixar mais um paciente, especialmente algum parente ou amigo deles, na fila de atendimento diário, e, para os quais, pimenta nos olhos dos outros é refresco:
- "Doutor, tenha pena desse pacientezinho."
- "E de mim? Quem é que tem pena?"
Por essas e outras, estamos sobrecarregados no trabalho, sem poder mirar adequadamente dentro de nós mesmos, e sujeitos às situações de estresse no trabalho, como as que motivaram o desabafo daquela médica, diante das câmeras de TV, em um pronto-socorro, no Rio de Janeiro, sobre o qual comentei aqui, há alguns meses. Tem gente que acha que saúde se faz apenas com médicos. E haja botar toda carga de trabalho nas costas dos médicos.
O poder público e suas instituições correlatas também precisam entender nossas limitações e nossas necessidades, em vez de nos converterem em inimigos públicos e tentar criminalizar nosso direito de reivindicar melhores condições de remuneração e de trabalho, como está tentando fazer o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), nos perseguindo, como nos tempos do regime militar. Falando em regime militar, como você já deve saber, os membros das forças de segurança militares são proibidos de fazer manifestações por interesses trabalhistas. Querem fazer o mesmo com os médicos, e estão realizando um pogrom contra nós, sistematicamente. Conversaremos mais sobre isto.
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Apesar de tanto escrever e de tanto desabafar, apresentando um tom meio frustrado, meio magoado e meio depressivo, buscando palavras, do fundo da minha alma, na maioria das minhas postagens, ainda acredito que nossa maior missão aqui é trabalhar para tornar o mundo um lugar melhor para nós mesmos e para que os outros possam viver. Peço perdão, se, em algum momento, aparentei ter-me desviado desse objetivo, do qual não pretendo abrir mão. Vendo o clipe a seguir, você deve entender, porque escrevo tantos desabafos aqui, da maneira que descrevi acima.
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