Há alguns anos, uma companheira de faculdade me disse que havia sonhado comigo. Contou que estava sentada em uma calçada com sua mãe e que, ao me ver caminhando pela rua, chamava minha atenção, eu cumprimentava de volta e seguia meu caminho, cabisbaixo. Parece um sonho banal, sem significado algum. Por que ela foi sonhar justamente comigo, quando podia ter sonhado com um ator global ou até mesmo com o namorado dela? E por que o sonho teve de se processar daquela maneira? Bem, isso não importa, porque parece ter sido um processo aleatório mesmo, o que nos mostra a incrível capacidade da mente humana de combinar as impressões que captamos do mundo a partir de nossos sentidos e de elaborar esses “curtas metragens” meio dadaístas, sem sentido algum aparente, mas que podem refletir preocupações e desejos conscientes ou inconscientes.
Há quem atribua aos sonhos o papel de profecias ou avisos. Há bastantes exemplos disso na Bíblia. Pode até ser, mas, para mim, na maioria dos casos, os sonhos são apenas a mente fazendo, como nos computadores, sua “desfragmentação de disco”, ou seja, reordenando a disposição de pastas e de arquivos, cobrindo espaços vazios e condensando os arquivos para que eles possam ser acessados com mais rapidez e para melhor aproveitamento do espaço total do disco rígido. O produto desse trabalho de revolver o conteúdo da memória é esse: o que estava escondido acaba reaparecendo e surge como se fosse novidade. Dessa maneira, pessoas e coisas que não vejo há anos vêm me visitar através dos meus sonhos. Elas vêm me lembrar que existem ou que existiram. É assim que os sonhos aproximam quem está distante.
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