Há alguns meses, o programa “Profissão Repórter” mostrou a situação de várias salas de emergências, em alguns pontos estratégicos do Brasil, entre eles Sobral. Aquelas imagens e pessoas mostradas na matéria me eram bem familiares. A equipe de reportagem com aprendizes de jornalistas vindos de São Paulo desembarcou na “Princesa do Norte” justamente no dia em ocorreu um grave acidente envolvendo um ônibus que transportava universitários, na altura do município de Santana do Acaraú, cerca de 20Km de Sobral. Com muitos feridos e pelo menos duas vítimas fatais, aquele foi um dos dias mais críticos da história da Santa Casa de Misericórdia de Sobral.
Aproveitando o tema da Campanha da Fraternidade desta temporada, que versa sobre a saúde pública, retomo aqui minhas reflexões a respeito do assunto.
Há alguns anos, participei de um debate sobre este tema no Twitter. Se falta assistência médica integral para a maioria da população, muitas pessoas não hesitam em apontar direta e exclusivamente o Estado como culpado. Então eu respondi que, embora o poder público não seja santo, não adianta as pessoas se limitarem a culpar o governo pela má prestação dos serviços de saúde, pelos hospitais lotados e sem médicos, se a sociedade não colabora, se cada um deixa de fazer sua parte, se ninguém cuida de sua própria saúde nem de sua própria segurança. Cada cidadão deveria assumir sua responsabilidade em fazer o possível para evitar doenças e acidentes.
Nem todos adoecem, vão ao hospital e ficam internados porque querem, mas às vezes, a presença de tantos pacientes nos corredores podia ser evitada, se cada um deles fizesse sua parte. Não é tão difícil assim. Basta procurar seguir antigos e singelos conselhos, tais como: começar a parar de fumar, consumir bebidas alcoólicas com moderação, evitar comportamentos de risco, quando estiver sob efeito etílico (andar sozinho pelas ruas, conduzir veículos automotores ou andar de bicicleta, etc.), quando em motocicleta, sempre usar capacete, seja condutor ou garupeiro, quando em carro, usar cinto de segurança, consumir sal ou açúcar com moderação, manter medicamentos, pesticidas e objetos perfurocortantes fora do alcance de crianças, lavar as mãos, ao sair do banheiro, ao pegar em dinheiro e antes das refeições, ao trabalhar com agrotóxicos, com máquinas perigosas ou em obras de construção, usar equipamentos de proteção individual, fazer exercícios físicos regularmente, buscar ajuda, em caso de dependência de drogas ou de ideação suicida, entre outros. São conselhos simples e desprezados, mas que nos ajudariam a viver melhor e reduziriam as probabilidades de adoecermos e de sofrermos acidentes.
Eu sei o que estou dizendo, porque tive a oportunidade de observar em meu cotidiano, quando eu era interno de medicina, que muita gente passava pela sala de emergência do meu hospital-escola, em Sobral, por desatenção e por falta de cuidado pessoal. Aquele hospital e sua equipe não se incomodavam em receber tais pacientes. Os transtornos gerados pelas doenças eram maiores para eles que para nós, que estávamos de braços abertos para acolhê-los 24h por dia, mas sempre torcendo pelo melhor desfecho, para que ninguém viesse a precisar de nossos serviços. Afinal, ninguém gosta de adoecer e sempre "é melhor prevenir que remediar". Nós não recebíamos os pacientes com má vontade, nem com preguiça de trabalhar. Acontece que a função primordial de todo profissional da saúde, não apenas do médico, não é tratar doenças, é prevení-las. Reza a lenda que, na Inglaterra do tempo de rainha Vitória, o médico da família real era pago para "manter a homeostase", ou seja, não permitir que membro algum daquela família adoecesse, caso contrário, seu salário seria suspenso.
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