No final do século XVIII, o médico inglês Edward Jenner conduziu experiências, injetando em algumas pessoas material colhido de pústulas, que são coleções de pus na pele, de algumas vacas, após observar que as pessoas que trabalham mais diretamente com aqueles animais não contraíam varíola, uma das doenças infectocontagiosas de maiores incidências à época. Ele constatou que, dentre as pessoas que participaram de seus experimentos, aquelas que contraíram a varíola desenvolveram formas brandas da doença e se recuperaram logo. Estava criada a primeira vacina, cujo termo guarda correlação com a palavra vaca, em latim.
Nos primeiros anos do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, que era capital do Brasil à época, era sacudida por intensas medidas de urbanização e de saneamento básico que, além de alterar profundamente a paisagem urbana, empurraram boa parte da população mais pobre cada vez mais para as periferias e encareceram o custo de vida. Tudo isso veio a culminar numa intensa revolta popular, que contou com a participação de grupos de militares, inclusive, e que ficou conhecida como Revolta da Vacina, em novembro de 1904, depois que o governo decretou que TODOS os moradores da capital seriam obrigados a tomar a vacina contra a varíola, mesmo que profissionais da saúde, por vezes com o apoio da polícia, sob o comando do médico Osvaldo Cruz, então diretor geral de saúde pública, tivessem que invadir as casas para fazer as aplicações contra as vontades das pessoas. Naquela época, desnudar os braços para tomar injeção era considerado imoral, e, sendo a injeção de material extraído de pústula de uma vaca, devido à falta de esclarecimento e de instrução da maior parte da população, aquilo era considerado extremamente repugnante. Mesmo assim, quatro anos depois, a cidade foi acometido por nova epidemia de varíola, e, dessa vez, houve correria em busca da vacina.
Em 2020, na vigência da Pandemia de COVID-19, causada pela infecção por Coronavírus, os governos municipais, estaduais e federal continuam sem se entender e sem alinhar suas condutas no enfrentamento da Pandemia. Alguns Estados tomaram a dianteira nas negociações com governos de outros países e com laboratórios estrangeiros, a fim de trazer a primeira vacina que estiver disponível contra o Coronavírus, o mais rápido possível. Enquanto o governador de São Paulo anuncia acordo celebrado entre seu Estado e um laboratório chinês, defendendo também a vacinação obrigatória da população, o presidente da República se recusa a autorizar a compra das vacinas do mesmo laboratório, alegando questões ideológicas, e, mesmo fazendo referência a uma lei federal de 1975, que autoriza as autoridades sanitárias a estabelecerem a obrigatoriedade da vacinação, conforme as circunstâncias, ele se posiciona contra tal medida e ainda brinca, dizendo que somente animais de estimação, como o seu cachorro doméstico, por exemplo, seriam obrigados a tomar vacina. O STF deverá julgar, em breve, quem tem razão, nessa disputa de interesses. Se for mesmo estabelecida a obrigatoriedade da vacina, é claro que não deve acontecer o mesmo que em 1904, de as pessoas serem vacinadas compulsoriamente nas ruas ou em suas casas, mas aqueles que se recusarem a se vacinar poderão sofrer algumas sanções administrativas, as mesmas aplicadas a quem, por exemplo, não tiver título de eleitor ou CPF ativos ou quem não tiver comparecido para alistamento no serviço militar ou prestado o serviço militar, se convocado, em se tratando de indivíduo do sexo masculino, como, por exemplo, ficar impedido de retirar passaporte, prestar concurso público, entre outros.
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