Sobre comemorar o que, para uns, foi golpe, e, para outros, revolução, ideia lançada juntamente com uma frase polêmica de um ex-ministro, há eventos na vida que não merecem ser celebrados, nem odiados, mas apenas tratados como páginas viradas ou simplesmente ignorados. Há eventos que alguém gostaria de voltar no tempo para remodelá-los até ficarem de um jeito que desse orgulho recordar, para que se pudesse guardar com tranquilidade a impressão de que a vida foi plenamente bem vivida, numa determinada fase, mas, não sendo possível, como dizia uma música de Gilberto Gil, melhor mesmo é deixar prá lá e não chorar mais pelo que passou.
Sobre a época em que os militares (di)geriram o Brasil, há toda uma visão mistificada, idealizada, romantizada e cheia de maniqueísmos e de demonizações. Recentemente, o movimento Brasil Paralelo, um grupo de mídia independente, lançou o documentário 1964: O Brasil entre armas e livros, que procurou apresentar, imparcial e objetivamente, argumentos que sustentam a ideia de que, no início dos anos 1960, países dominados por regimes socialistas e totalitários estariam atuando no Brasil, nos bastidores, para que o mesmo regime fosse insidiosamente implementado aqui, com direito à todas as mesmas mazelas possíveis. Para eles, permitir a continuidade de governos populistas, como o de João Goulart, por exemplo, seria permitir a infiltração gradual do comunismo nas instituições e a troca imperceptível de seis por meia dúzia. E isso teria levado os militares a intervirem, a fim de evitar que aquela infiltração se efetivasse. Logo, muitos jovens rebeldes da época não teriam ideia de onde estavam se metendo, do que estavam defendendo e para quem estavam trabalhando de fato. Mas será que alguém não esticou demais a baladeira???
Já em 1937, por exemplo, quando Getúlio Vargas era presidente, forjou-se um plano atribuído à rebeldes comunistas para tomar o poder, foi o mítico Plano Cohen. Foi a justificativa para que Vargas pudesse prolongar sua presença no governo, instalando um regime de exceção, em nome da segurança nacional, e iniciando uma nova fase que ficou conhecida como Estado Novo. Ou seja, argumentos parecidos com os de 1964 teriam sido usados em favor de interesses particulares de alguém que quis posar de herói da pátria.
Uma intervenção militar no governo brasileiro, naquele contexto de (des)governo, seria um mal necessário. Mas, e a permanência deles no poder, por mais de vinte anos? Era realmente necessária? Ou foi apenas uma mera vaidade oportunística para vilipendiar atenção e os recursos da nação? De todo modo, só nos resta trabalhar, torcer e rezar para que excessos e injustiças naqueles níveis não voltem a se abater sobre nossas cabeças.
Uns têm Che Guevara, que participou de revoluções comunistas em quase toda a América Latina, principalmente em Cuba, como herói, ao ponto de vestir camisetas estampadas com o rosto dele. Outros têm o coronel Ulstra, oficial do Exército Brasileiro acusado de torturas e de assassinatos, durante o governo militar, no mesmo papel e vestem camisetas com o rosto dele. Quem está certo ou errado? Quem é do bem ou do mal, nessa história? Quem vai saber? O fato é que o Brasil segue cada vez mais dividido.
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