Nos primeiros meses de 2018, não se falava de outra coisa que não fosse a intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Chegaram a desviar um pouco os holofotes para a cirurgia de correção de uma fratura no pé direito do jogador Neymar, atualmente servindo no time francês Paris Saint Germain, e para o assassinato da vereadora Marielle Franco, numa rua do Rio de Janeiro, em março último, mas ainda não completa e devidamente esclarecido.
Dada a demonstração da incapacidade do poder público local em lidar com esse surto de violência epidêmica, fora de controle e sem precedentes, que acomete a outrora chamada Cidade Maravilhosa e se alastra pelo restante do país, fizeram-se necessárias a nomeação de um oficial superior das Forças Armadas para assumir interinamente a Secretaria de Segurança Pública e a ocupação de áreas críticas da metrópole por tropas federais. Aparentemente, seria o começo do fim de um caos iniciado no Rio de Janeiro, resultado de anos de conivência do governo estadual, que está com a visão turvada pela corrupção, que é a mãe dos crimes. Alguns ex-governadores e até mesmo um governador no exercício do mandato foram presos. Caos que se distribuiu para o resto do país, de modo aparentemente (des)proporcional e inexorável.
O poder público permitiu que os bandidos cada vez mais se aglutinassem e se articulassem em grandes organizações criminosas que não conhecem fronteiras territoriais e que crescem de tamanho cada vez mais, corrompendo cada vez mais crianças e adolescentes e cada vez mais se armando, ao ponto de as forças policiais não serem mais páreas para elas. Uma peculiaridade das forças criminosas do Rio de Janeiro é o emprego de táticas de guerrilha urbana, tal como já é feito noutras partes do planeta, demarcando algumas áreas onde o Estado tem menos participação, se amotinando nelas e delas partindo para semear o terror noutras áreas. E já é bem sabido que há uma banda podre nas forças de segurança que fornece armas, instruções e informações aos inimigos.
As polícias, os ministérios públicos e os poderes judiciários dizem não poder fazer melhor do que já fazem para tentar garantir mais segurança e tranquilidade aos cidadãos porque estão de mãos atadas por empecilhos legais. Eles não são de todo culpados por essa realidade. Aqueles que poderiam quebrar esses empecilhos legais, que são os membros dos poderes legislativos, fingem que a conversa não é com eles. Não têm tomado as providências que lhes cabem para mudar as leis criminais porque não lhes interessa. Persiste a impressão de que o poder público está de braços cruzados para a insegurança. Quanto mais persiste essa aparente inércia do Estado, mais os bandidos fazem alguma coisa e se sentem mais à vontade para fazer o que bem entender.
As autoridades têm que entender que, com os recursos de que dispomos, não vamos a lugar algum. As leis criminais precisam ser mudadas, para que as forças de segurança tenham mais autonomia para trabalhar. Praticamente todos os dias, mudam-se as leis de trânsito, conforme conveniência, porque delegaram à terceiros atribuições para fazê-lo, mas não se preocupam em mudar a legislação criminal, que se encontra estagnada e favorecendo o banditismo e a insegurança.
Uma vez que o problema do Rio de Janeiro foi dado como resolvido, e a intervenção federal foi oficialmente encerrada, o problema deles cada vez mais se alastra para outras partes do Brasil, chegando ao Ceará, inclusive e principalmente. 2018 foi marcado por chacinas, como a do Forró do Gago, por exemplo, que parece ter servido de inspiração para um franco atirador que matou pessoas, numa igreja em Campinas, há cerca de um mês, e pelo sutil começo das ações terroristas que vemos potencializadas agora, com incêndios em ônibus, em prédios públicos e em veículos oficiais e com explosões de viadutos.
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