Nesses dois últimos
domingos, foram aplicadas as primeiras provas do Exame Nacional do
Ensino Médio, o ENEM, cujas pontuações são usadas como critérios de
seleção para muitas instituições de ensino superior. Distintas entidades
tentaram obter judicialmente novo adiamento do certame, devido ao clima
de insegurança ainda reinante, no Brasil e no mundo, pela Pandemia de
COVID-19. No entanto, o exame foi mantido, exceto para o Estado do
Amazonas e para alguns municípios da Região Norte, onde a incidência da
COVID-19 tem sido visível e evidentemente muito mais calamitosa do que
no restante do país, ao ponto de muitas pessoas morrerem por falta do
gás oxigênio medicinal nos hospitais e de um parente de uma delas declarar para a TV que "o pulmão do mundo está sem oxigênio",
pois a produção do gás medicinal em escala industrial não tem suprido a
demanda, e mobilizá-lo de outras partes do país é difícil,
devido às dificuldades de transportes, na região amazônica. Quiçá o
momento não fosse mesmo propício para a realização do ENEM. Além do
risco aparentemente aumentado de contágio, por conta de aglomerações,
nos locais de prova, a maioria dos estudantes não teve condições
adequadas e igualitárias de se preparar para as provas. Talvez isso
ajude a explicar os mais de 51% de ausentes, no primeiro dia de provas, e de 55%, no segundo dia,
por exemplo. Entretanto, a banca organizadora do ENEM poderia alegar que
outras provas de vestibulares e de outros concursos públicos têm sido
aplicadas Brasil afora, nos últimos meses, como o vestibular da Fuvest,
por exemplo, considerado o mais concorrido do Brasil, pois seleciona
para algumas das mais visadas universidades paulistas.
E isso não tem implicado necessariamente aumento de casos de COVID-19,
até agora. Ela poderia alegar também que, nesta edição, os candidatos
terão a opção de realizar as provas em formato on line, por meio de computadores e que os candidatos inscritos na modalidade de provas presenciais que estiverem comprovadamente
infectados pelo Coronavírus e, portanto e obviamente, impedidos de
comparecer poderão requerer participação na reaplicação das provas, que
deve acontecer daqui a um mês.
Você
já reparou que, em dias de eleições no Brasil, por exemplo, sejam
municipais, estaduais ou federais, tanto no primeiro como no segundo
turno, o Brasil praticamente para? Eventos esportivos não acontecem em
dias de eleições, por exemplo. Como a maioria dos cidadãos adultos é
obrigada a comparecer aos locais de votação, ou justificar a ausência,
pelo menos, sendo o caso, acontece que praticamente TODOS os brasileiros
acabam sendo envolvidos nos processos eleitorais, voluntária ou
involuntariamente.
Já
nos dias das provas do ENEM, o nosso maior processo seletivo ao ensino
superior, parece que, no Brasil, nada demais acontece. Os candidatos vão
aos locais de prova, enfrentando dificuldades pelos caminhos, sem
contar com muito apoio ou solidariedade de quem quer seja. A não ser de
seus familiares, e olhe lá. Ao menos um "vai com Deus" ou um "boa
sorte", por exemplo, já estariam de bom tamanho. Por vezes até são
vítimas de chacotas, principalmente quando chegam correndo em cima da
hora, com os portões se fechando. O exame é realizado, grandes eventos
esportivos também são realizados, e a vida segue como se nada demais
estivesse acontecendo. Não há um envolvimento da sociedade neste
processo. Ao contrário do que acontece na Coreia do Sul, a nossa
sociedade ainda se mostra muito egoísta. Cada um só pensa no seu. Não há
um comprometimento generalizado do povo brasileiro com melhorias da
qualidade da educação. Os nossos estudantes estão, praticamente,
entregues às próprias sortes. Esperava-se que a Pandemia ajudasse a
mudar isso, pelo menos.
De
todo modo, o INEP está de parabéns pela escolha do tema da prova de
redação, lançando uma luz sobre a saúde mental, que manda lembranças,
aliás, neste Janeiro Branco. Todavia, estariam os candidatos preparados
para expor por escrito, em tão pouco tempo, uma reflexão tão profunda
exigida como esta? Pelo menos espera-se que tenham aprendido a ter
alguma humildade e algum respeito por quem sofre com transtornos
mentais, a valorizar também a busca pela saúde espiritual e não visar
certas carreiras profissionais apenas pelo status.
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