Você já se imaginou numa ilha deserta ou em qualquer lugar afastado das grandes cidades ou de onde já está acostumado a estar? Não precisa ser um lugar muito afastado. Basta que seja um lugar meio isolado e onde esteja privado de acesso aos recursos com os quais sempre contamos no cotidiano, ou seja, como dizia aquela canção de Luiz Gonzaga, "sem rádio e sem notícia das terras civilizadas".
Foi o que me ocorreu, há alguns dias, quando estava viajando à serviço. À noite, no hotel, o sinal de Internet sem fio não estava funcionando. Dentre os quatro SIM cards de quatro operadoras de telefonia móvel diferentes que levo comigo, apenas um estava recebendo sinal de Internet 3G e precariamente. Estava sem um aparelho de rádio, mas, mesmo que o tivesse, as emissoras de rádio não costumam ser bem sintonizadas na região. Como se não bastasse, o televisor também estava sem sinal, naquela noite. Então, vieram as sensações de vacância, de isolamento, de inutilidade e de ociosidade.
Poderia ter escrito na mesma hora as coisas que escrevo agora, mas não seria a mesma coisa, pois não poderia escrever o texto, salva-lo em uma base de dados remota e atualiza-lo continuamente. Faltou inspiração naquele momento e ele poderia ter-se perdido no caminho, por um motivo qualquer. Queria escrever algo, mas faltavam inspiração e motivação.
Um dia desses, ouvi uma entrevista do navegador Amir Klink no rádio. Ele comentou, entre outras coisas, sobre a importância das coisas que temos ao nosso alcance, porque só as valorizamos devidamente quando delas sentimos falta. Ele contou que, em seu barco, por exemplo, durante suas viagens, ele precisa trabalhar para gerar a energia elétrica e a água potável que consome, itens que estamos acostumados a pagar para recebê-los com praticidade em nossos lares, mas não imaginamos o trabalho para produzi-los. Ele disse ainda que é possível instalar um ponto de acesso à Internet na embarcação, mas os custos inviabilizariam seus projetos náuticos. Então, em alto mar, para ele, comunicação com o resto do mundo só por rádio mesmo.
Vejamos a que ponto estamos mal acostumados com a tecnologia. A humanidade está cada vez mais mal acostumada a ter quase tudo de que precisa nas mãos com menos esforço. Muitas pessoas possuem telefones celulares e dispositivos móveis, que, em sua maioria, estão conectados em rede 24 horas por dia, permutando dados continuamente. Estamos constantemente conectados com algo. Queremos mais do que receber e fazer chamadas telefônicas ou mensagens de texto. Queremos ler os e-mails, assim que nos chegam, saber das notícias, assim que acontecem, e ver as atualizações das redes sociais, logo que são publicadas. Quem viveu e cresceu nessa rotina dificilmente desapegar-se-á dela. Quem anda com um smartphone no bolso, por exemplo, deve se sentir como se tivesse uma arma na cintura. Sem ele, deve sentir-se desarmado e indefeso.
Essa busca incessante e constante da humanidade por informação e atualização se justifica, se levarmos em conta que ninguém mais quer ser o último a saber de tudo e ser confrontado por conta disso.
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