A frase que dá título à esta postagem foi retirada de um pensamento de Machado de Assis, notável escritor brasileiro do final do século XIX, e fiquei conhecendo-a por meio do caderno de questões da prova de um concurso público que prestei recentemente. Na capa do caderno, havia algumas instruções, e uma delas dizia que o candidato deveria transcrever aquela frase no cartão de respostas com sua caligrafia usual. Deve ser algum tipo de ferramenta que eles usam para identificar o candidato e evitar fraudes.
Quiçá eles tenham escolhido a frase também para justificar que, às vezes, esquecer informações e detalhes que geralmente não julgamos importantes, mas que acabam se revelando essenciais, em algum momento da vida, seria inconscientemente necessário para a condição humana, a fim de nos lembrarmos de que não somos infalíveis, de sabermos valorizar algumas coisas que perdemos e de eliminarmos algum peso que se mostra inútil em nossas mentes, na maior parte do tempo.
Sherlock Holmes, lendário detetive da literatura inglesa da Era Vitoriana, em seu livro de estreia, Um Estudo em Vermelho, defendia que a mente humana tem capacidade de armazenamento limitada porque não é elástica. Então, para que alguns aprendizados novos fossem incorporados, aprendizados antigos teriam que ser descartados. Portanto, segundo sua teoria, o acervo de nossas memórias precisaria ser constantemente reciclado.
De fato, a teoria acima é válida, considerando que, por vezes, precisamos praticar o desapego e dar uma arrumada na casa, separando coisas velhas e doando-as, para que venham coisas novas. Assim, há experiências pelas quais preferiríamos não ter passado, consequências de escolhas equivocadas feitas nos lugares e nos momentos menos adequados. Há também momentos que gostaríamos de apagar não somente de nossas memórias, mas, se nos fosse possível, voltaríamos no tempo e os apagaríamos da história, para que eles nunca tivessem existido, nem para nós, nem para o mundo.
Na verdade, nada se apaga completamente de nossa memória. As informações mais antigas e menos utilizadas são apenas deslocadas para a periferia da mente, uma espécie de "arquivo morto", de onde podem ser mobilizadas algum dia, caso um estímulo casual às evoque, enquanto informações mais recentes dão entrada na memória.
De qualquer maneira, desfazemo-nos de experiências antigas, mas não dos aprendizados que as acompanharam, para que venham novas experiências e novos aprendizados. Porque a minha lousa, por exemplo, já está visualmente poluída e de leitura confusa. Precisa, portanto, ser passada a limpo.
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