Naqueles dias, Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: "Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber". Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: "Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão". Ela respondeu: "Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte".
Elias replicou-lhe: "Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: 'A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra'". A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.Reis 17, 10-16
Esse texto me fez refletir sobre a importância de compartilhar o pão e outras necessidades primárias. Reza a lenda que todo cristão deve dar esmolas aos seus irmãos mais necessitados, além de fazer alguma obra de caridade, rezar e fazer alguma penitência ou jejum. Aqui, quando se fala em jejum, o sentido não se restringe ao significado de uma restrição alimentar forçada. Entenda-se como jejum a abstenção temporária de outros elementos da vida que não são considerados essenciais à sobrevivência, como a compra de uma roupa, de um aparelho eletrônico, de um ingresso para o cinema, entre outros.
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Reza a lenda que nunca devemos nos recusar a repartir o pão com quem nos pede, usando o argumento de que ele não é suficiente para nós e nossos familiares. Considere que, quando alguém nos pede comida, é porque Deus nos enviou essa pessoa à nossa procura, porque Ele sabe que a comida é suficiente para todos. Deus abençoa nosso pão da cada dia e ele se multiplica. Assim, se não o repartimos, boa parte dele se estraga.
Sem querer entrar no lado político da questão, mas, de qualquer maneira, reconheçamos que o pobre indigente não deve ser alimentado ad eternum por políticas assistencialistas. Dar esmolas é importante, em princípio. A esmola não resolve os problemas do desemprego, da fome e da mendicância, mas salva algumas vidas, temporariamente. Cedo ou tarde, é importante também que o indivíduo necessitado aprenda a deixar de viver às custas de esmolas e aprenda a caminhar com suas próprias pernas, quando puder produzir seu sustento e de seus familiares por si mesmo.
Acho que já havia escrito algo sobre isso que estou escrevendo agora, especialmente quando escrevi algo sobre justiça social. Sou muito emotivo. A palavra "fome" é uma das palavras mais fortes que posso ouvir, porque é capaz de ferir-me os ouvidos e deixar meus olhos rasos de água. Não consigo dormir bem, nem me alimentar à vontade, sabendo que alguém passa fome em algum lugar.
Para finalizar, uma coisa que me intriga é que, não sei se é por ser meio paranóico, mas, por vezes, transitando por aí, tenho a impressão de que todos os indigentes desta cidade sempre vem a mim, só a mim. Parado nos cruzamentos, os pedintes e os limpadores de parabrisas só vem a mim. Numa cidade com quase três milhões de habitantes, há quem pense que sou o único médico do lugar, como se fosse o único a dirigir um utilitário esportivo e o único com cara de rico. Vai entender essas coisas. Depois conversamos mais sobre isso.
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