"Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos mais quem nós éramos". Martin Luther King
Meu tempo de residência médica está chegando ao fim, o que, por um lado, é bom, mas, por outro lado, gostaria de ficar um pouco mais, pelo menos até me sentir seguro o suficiente para caminhar e enfrentar o mundo sozinho e sentir que tenho o suficiente a oferecer. Estou passando por um momento de tensão decisiva, assim como as últimas rodadas de um campeonato, os últimos capítulos de uma novela ou os últimos episódios da temporada de uma série consagrada. O tempo restante até o desfecho talvez seja insuficiente para trazer à tona as respostas que os telespectadores esperam, e talvez surjam mais dúvidas.
Me pergunto o que vou levar da residência médica. Me pergunto se estou apto a servir bem à comunidade. Admito que não sou o melhor que ela poderia ter, mas seria melhor ter a mim do que nada ter, porque ainda faço a diferença nas vidas de muitos. Admito que dei bandeira, quando expressei de maneira muito aberta e inadequadamente minhas emoções, suscitando minhas dúvidas também naqueles que estavam próximos. Admito que dei bandeira, por não ter aproveitado melhor estes últimos três anos, que passaram depressa, enquanto minhas vidas profissional, financeira, familiar, amorosa e espiritual corriam desorganizadas. Mais uma vez, dei bandeira, quando me perguntei se tudo teria sido diferente, se tivesse empreendido um esforço maior para ter começado e concluído mais cedo minhas empreitadas.
Me pergunto também o que vou deixar na residência médica. Terei contribuído para tornar este e outros lugares
por onde passei em ambientes de paz e de união, deixando os melhores
legados possíveis, ao invés de torná-los lugares de discórdia, de acordo
com a Oração de São Francisco???
Terei deixado as melhores impressões possíveis, naqueles lugares, ou
terei projetado neles meus demônios e meus conflitos internos??? Minha
partida teria despertado saudades ou alívio, naqueles que ficaram???
Estas e outras perguntas tenho dirigido a mim mesmo, desde que me formei
médico, há três anos, e, provavelmente, Deus poderá dirigi-las a mim, quando nos encontrarmos. De qualquer maneira, tenho identificado os "buracos" na minha formação e estou tentando fechá-los, dentro do possível.
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