Histórias de trotes de mau gosto em universidades, como o que foi contado em uma postagem anterior, por exemplo, são apenas a ponta de um iceberg. Já houve casos piores de trotes degradantes e, por vezes, com consequências desastrosas. Você deve se lembrar, por exemplo, daquele caso de um estudante de medicina que morreu afogado em uma piscina olímpica na USP, há quinze anos. Até agora, parece que nada ficou devidamente esclarecido, o episódio foi esquecido pela maioria dos brasileiros e os universitários não aprenderam lição alguma.
Talvez nunca se descubra o que aconteceu em 22 de fevereiro de 1999, naquela piscina. Reconstituir aquela cena é praticamente impossível. No calor de uma brincadeira, a maioria dos presentes na ocasião estaria com a consciência meio turva, talvez com alguma dose de contribuição etílica, e não teria percebido o que acontecia. Mais tarde, teria-se instalado uma sensação coletiva de constrangimento, e eles teriam se intimidado mutuamente para se calarem, pois, como já foi dito, há, nos meios universitários, relações de poder baseadas numa hierarquia virtual entre os alunos, que, quando conquistam algo mais, passam a exercer certas autoridade e influência sobre os demais. Ainda que as testemunhas em potencial quisessem falar algo hoje, seus depoimentos já não seriam tão confiáveis e certamente seriam conflitantes, porque suas memórias já devem estar comprometidas, depois de quinze anos de silêncio.
É sabido que Edison Hsueh morreu afogado em uma piscina, mas não se sabe ao certo como ele se afogou nem porque ele se afogou. Não há provas materiais de que ele foi assassinado, tampouco que apontem para quem o teria feito. Alguns dos alunos veteranos que organizaram o trote chegaram a ser investigados e indiciados, mas foram absolvidos por falta de provas palpáveis e suficientes de que eles teriam provocado direta ou indiretamente a morte do rapaz. Não foi considerado que organizar uma festa daquela natureza em um local com piscina, por exemplo, traz riscos em potencial de danos materiais e pessoais. Riscos que os organizadores geralmente assumem, como no caso da boate Kiss, por exemplo. Ninguém matou aquelas duzentas e quarenta pessoas de propósito, mas o risco de aquelas mortes terem acontecido era previsível, nas condições em que a festa foi realizada.
Atualmente, os acusados são profissionais médicos de destaque em suas especialidades, têm prestado bons e relevantes serviços à comunidade, e, assim, vêm procurando reparar seus erros do passado e apaziguar suas consciências, se realmente acreditam ter alguma culpa no cartório. Lamentavelmente, Edison Hsueh não teve a mesma oportunidade que eles tiveram de crescer na vida. Portanto, uma coisa é certa: a sociedade deve e muito à família de Edison Hsueh. A sociedade deve amparar de alguma forma a mãe do rapaz, que está sozinha e esquecida, principalmente depois que ficou viúva, há alguns anos, além de tentar reparar, na medida do possível, a sua perda.
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