Calma. Ainda não estamos encerrando de vez as nossas atividades, muito embora estivéssemos bastante perto disso, ao longo deste ano, que foi muito corrido e difícil. Se você conseguiu perceber o ritmo das notícias trazidas pelos principais meios de comunicação, deve ter notado que, ao longo do ano, aconteceram muitas coisas relevantes, no país e no mundo. Coisas muito densas. Não conseguimos acompanhar tudo como gostaríamos e deveríamos. Afinal de contas, não somos meras testemunhas oculares da história, tal como era o extinto programa de rádio e de televisão Repórter Esso.
Note que o ano da graça de 2023 foi mais um ano que veio como novo, com problemas velhos e potencializados, e que já foi, como um sopro. Foi rápido, porém bastante denso. Será que cada "Ano Novo" é realmente tão novo assim? Logo chegamos a mais um final de ano. Locais públicos e privados enfeitados e iluminados, como sempre, enchendo os olhos das crianças, principalmente, e embriagando de entusiasmo os adultos mais incautos e ingênuos. Tudo bem, vamos e convenhamos, é uma época bonita, mas já foi mais bela. Não se sabe se é por causa do avançar da idade, do cansaço e de seus entes queridos que não estão mais por perto, mas, aos poucos, as festas de fim de ano vão perdendo, para você, a beleza, o encanto e o sentido. Isso não se limita às festividades, mas se estende também para a vida, de um modo geral, que vai perdendo a graça, aos poucos. Sobrevêm saudades daqueles tempos em que o Natal despertava alívio e alegria, e não medo e ansiedade.
Talvez já tenhamos conversado sobre isso, mas precisamos recordar que não dá para baixar a guarda e perder o foco, com as festas de final de ano. Cada vez mais, em qualquer lugar do mundo, mas, principalmente em lugares onde criminosos não têm medo da polícia, eles intimidam todo mundo, e o Estado é débil diante deles, como no Brasil, por exemplo, pessoas têm medo de pessoas. Pessoas têm cada vez mais medo de sair de suas zonas de conforto, para fazer o que for, por medo de que outras pessoas lhe façam algum tipo de mal, gratuitamente ou em busca de algum ganho material, porque adotaram esse modo de agir como meio de vida. E esse tipo de gente parece intensificar suas ações, a cada final de ano. Eles também querem garantir um Natal feliz e uma perspectiva de um novo ano bom, para si e para os seus, a qualquer custo. Dizem que o Diabo não dorme. Mesmo fora dos horários comerciais, ele trabalha indiretamente, pelas mãos dos indivíduos que prestam serviços à ele, fazendo mal contra seus semelhantes, deliberadamente, como um meio de vida.
Por essas e outras, se você tem filhos, principalmente adolescentes, deve estar temeroso ou temerosa com a segurança deles e receoso ou receoso em lhes dar a mesma liberdade de que sua geração desfrutava, quando você podia sair de casa sozinho ou sozinha, andar pelas ruas de seu bairro, de pé, de skate ou de bicicleta, por exemplo, brincar com outras crianças, numa praça, num parque ou num campo de futebol, por exemplo, ou encontrar outros adolescentes, num shopping center, por exemplo.
Fim de ano não necessariamente é sinônimo de fim da vida, fim do mundo ou fim de tudo. A não ser para aquelas pessoas que tiverem a infelicidade de terem suas vidas interrompidas ou encerradas, precoce e fortuitamente, pelos mais diversos motivos. Tirando isso, a maioria de nós consegue sair invicta, de um ano para outro, com suas perdas e conquistas, sempre seguindo em frente, de algum jeito. Se sua vida, por vezes, parecer monótona, porque você não vê algo de extraordinariamente bom acontecer nela, agradeça, porque também não acontece algo extraordinariamente ruim. Se você não estava dentro daquela combinação ideal que você considera como "local certo e hora certa", agradeça também, porque você, ao menos, não estava também no lugar errado, nem na hora errada. Posto isso, você ganhou mais um dia de vida. Agradeça também porque a maioria das pessoas com quem você cruza por aí, no seu cotidiano, são pessoas bem intencionadas. Consequentemente, você volta praticamente ileso, para o seu local de dormida, quase todos os dias.
E, assim, seguimos vivendo, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, segundo após segundo, sem saber ao certo o que vem logo adiante, mas sempre em busca de algo que nos anime, que nos faça seguir acreditando nas promessas de um futuro mais promissor, mediante a justiça humana, neste mundo material, fingindo que estamos todos felizes e celebrando a estupidez humana, como dizia aquela canção da Legião Urbana, que nos dê um pouco mais de fé, de alegria e de prazer, que nos acrescente algo de bom e que, sobretudo, nos lembre de que todo sofrimento aqui é passageiro, porque tudo é apenas uma fase.
E, assim, cada virada de ano é o começo de um novo círculo vicioso. Quem sabe, um dia, saibamos o que é ter um Ano Novo de verdade, se é que isso é possível, dentro desse contexto de civilização em que se vive.
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