Retrocedendo dez anos no tempo, remonte ao ano da graça de 2013. Naqueles idos, o Brasil era governado pelo mesmo grupo político de agora, mas você deve se lembrar de que aquele foi um ano de grande efervescência cultural, social e política, que sacudiu o Brasil. Tudo começou quando cidadãos paulistanos foram às ruas protestar, em princípio, contra um aumento, de "apenas" vinte centavos, nas tarifas dos transportes coletivos da capital paulista, mas não tardou para que aquelas manifestações ganhassem outros contornos, expressando outras reivindicações e insatisfações populares, e se alastrassem país afora. Diversos segmentos sociais foram mobilizados, através das redes sociais, principalmente pela hashtag #vemprarua.
Aquele movimento por "mais que 20 centavos" foi a explosão de um descontentamento geral, que pôs a nação em social e generalizada convulsão. Descontentamento pelas falhas do poder público em suprir as necessidades dos brasileiros, em campos como saúde, educação, segurança pública, geração de empregos, economia, entre outros, tudo aquilo resumido num só pedido, ou melhor, numa só exigência: reforma política. Nunca antes, na história deste país, se viu tanta gente indo às ruas, com bandeiras, camisas, faixas e outros adereços em verde e amarelo. Talvez o mais próximo disso se tenha visto, quando do movimento pelas Diretas Já, em 1984, no apagar das luzes do governo dos militares.
O grupo político dominante se sentiu ameaçado. Percebeu que não era tão popular quanto pretendia parecer. Tentaram de toda forma reprimir expressões de objeção, desde medidas ao estilo "política do pão e do circo" até subterfúgios jurídicos, tal como agora. Naquele ano, o Brasil sediou a Copa das Confederações de Futebol, uma espécie de evento-teste, para a Copa do Mundo de Futebol, que também seria realizada no Brasil, no ano seguinte. Boa parte da população protestou contra aquele evento. Enquanto hoje, dez anos depois, estamos prestes a nos entreter novamente, com a Copa do Mundo de Futebol Feminino, a ser realizada em terras distantes, do outro lado do globo.
A classe médica se reuniu em peso para protestar contra as condições precárias e insatisfatórias de trabalho e de prestação de serviços à população, por parte do Sistema Único de Saúde, o SUS, e contra o programa Mais Médicos, que permitiu a vinda de médicos graduados fora do Brasil, brasileiros ou estrangeiros, para atuar na Atenção Básica de Saúde, sem a necessidade de submeter seus diplomas ao Revalida, que é um processo de reconhecimento da validade de diplomas de instituições de ensino superior estrangeiras, em território brasileiro. Nunca antes, na história deste país, se viu tantos médicos reunidos em manifestações públicas, diante de hospitais e de órgãos públicos governamentais. No entanto, aquela revolta dos médicos teve um preço: manifestantes supostamente ligados a um movimento social invadiram a sede do Conselho Regional de Medicina (CREMEC), em Fortaleza (CE).
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