Não sabemos se ele teria a mesma intenção de voltar ao Brasil e trabalhar em projetos sociais para desviar os jovens do mundo das drogas, se ele não tivesse sido preso. De qualquer maneira, essa história nos remete ao filme brasileiro Meu nome não é Johnny. O longa metragem de 2008 é baseado em fatos reais e estrelado por Selton Melo, que interpreta um jovem de classe média carioca que entra para o narcotráfico a fim de ajudar a pagar as dívidas de amigos viciados. Até que ele próprio se torna um viciado e passa a negociar cocaína em quantidades cada vez maiores, meio que ingenuamente, como se tudo fosse uma brincadeira, sem parar por um momento para pensar nos riscos que corria e nas consequências de seus atos. Quando ele foi preso, ele ficou meio que sem entender o que estava fazendo na cadeia, como e porque foi parar lá. Então, sob o argumento de que ele seria incapaz de compreender suas atitudes e de ser responsável por elas, ele foi encaminhado para tratamento psiquiátrico num manicômio judiciário e liberado, depois de pouco tempo.
Coincidência ou não, há um produtor de cinema que também está interessado em levar a história de Marco Archer para as telonas, no formato de um documentário. É óbvio que, infelizmente, esse documentário não deve ter um final feliz. Outra coincidência ou não é que há outro brasileiro preso e condenado à morte na Indonésia pelo mesmo motivo. Desta vez, a defesa pretende alegar que ele tenha quadro de esquizofrenia. Como foi dito, não cremos que um transtorno mental como esse leve indivíduos acometidos a praticarem crimes de maneira tão deliberada e organizada, como viajar com pacotes de cocaína escondidos em pranchas de surfe, por exemplo, mas ele pode ter desenvolvido, de fato, um transtorno psicótico, posteriormente, o que poderia comprometer-lhe, de fato, a capacidade de compreender a situação em que se encontra.
Quando se veem as reportagens sobre assassinatos causados pelo tráfico, nas periferias de nossas cidades de quaisquer portes, torna-se menos difícil compreender porque as autoridades de alguns países como a Indonésia, por exemplo, punem seus criminosos daquela forma.
Há quem diga que a penalidade infligida ao condenado teria sido desproporcional para o crime cometido. Depende do ponto de vista e da cultura em que se baseia. No Ocidente, talvez seja realmente desproporcional, pois a maioria dos países ocidentais tende a evoluir, buscando alternativas ao encarceramento e à pena de morte mas, como foi dito, para um país predominantemente muçulmano, sendo, portanto, regido por princípios morais e éticos bem diferentes dos nossos, como é o caso da Indonésia, por exemplo, a pena de morte é um castigo justo, razoável e aceitável, que é aparentemente aplicado friamente, mediante critérios e rituais, com amplo direito de defesa garantido ao réu, respeitando à dignidade do ser humano e sem requintes de crueldade.
Entretanto, faltaram bom senso e razoabilidade por parte do governo indonésio, que são qualidades que se esperam universais. Primeiro, Marco Archer passou pelo menos dez anos preso, aguardando essa execução. Esse tempo de prisão já não teria servido como punição??? Uma coisa é você conseguir entrar com drogas num país. Outra coisa completamente diferente é tentar entrar com drogas num país e não conseguir.
O governo indonésio promete combater com mais rigor o narcotráfico e não abre mão da aplicação da pena capital, que é aprovada por ampla maioria da população local, como meio de coibir o narcotráfico. Como se vê, as "mulas" que desembarcam no aeroporto de Jacarta são severamente punidas, mas, e os grandes traficantes e líderes dos cartéis que enviam as drogas para a Indonésia e dos que recebem e revendem, como ficam??? Ainda há de se levar em conta que, se existe tanta gente se arriscando a entrar com drogas na Indonésia, apesar das possíveis consequências, é porque há mercado consumidor suficiente para fazer o negócio viável.
Falando em Indonésia, fazendo um adendo, curiosamente, há alguns anos, tentou-se abrir uma sucursal da revista masculina Playboy naquele país, que se destacou porque seus ensaios fotográficos eram bem mais comportados, se comparados com as Playboys de outros países. Mesmo assim, teve uma existência efêmera, e um de seus editores acabou preso.
Como mencionamos a religião muçulmana, nós também somos Charlie Hebdo, não porque somos a favor de zombar de qualquer crença. Somos a favor de que a liberdade de expressão seja usada com sabedoria e com bom senso, mas também somos, acima de tudo, contra aqueles que se valem de preceitos religiosos distorcidos para ventilar a violência e tentar dominar o mundo.
Enquanto nosso governo esteve empenhado em salvar a vida de quem estava no corredor da morte na Indonésia, faltou empenho em pressionar pela correta elucidação do caso de uma estudante brasileira que trabalhava como baby sitter, em Nova Iorque, quando foi encontrada morta, no armário de seu quarto, há quase três anos. A conclusão dos peritos locais foi de suicídio por enforcamento com um cinto, mas, segundo familiares e pessoas próximas, não havia indícios de que ela tivesse motivos para vir a tentar suicídio. Além disso, as investigações paralelas que foram realizadas posteriormente no Brasil, incluindo a exumação do cadáver, apontaram falhas na investigação original, nos Estados Unidos, que apontam para as hipóteses de que ela teria sido assassinada e que a cena do crime teria sido adulterada. Os pais da moça e uma parte da comunidade brasileira nos Estados Unidos lançaram campanha na Internet a fim de fomentar a reabertura do caso, por parte da polícia de Nova Iorque, ou a realização de uma investigação particular. Quem puder e tiver interesse em ajudar pode fazê-lo através do Facebook ou de uma fundação que arrecada fundos para custear as novas investigações.
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