Reza a lenda que o pai de João Havelange, veterano presidente de honra da FIFA, foi um homem de sorte, porque comprou uma passagem para viajar no transatlântico Titanic, mas chegou atrasado ao cais e perdeu o embarque. Ele deve ter ficado muito indignado na ocasião, mas, alguns dias depois, ao saber o que aconteceu, deve ter suspirado aliviado.
Aconteceram também comigo situações parecidas com a do senhor Faustin Havelange. A diferença é que ele logo descobriu que havia algum sentido na situação pela qual passou.
Dizem que Deus escreve reto por linhas tortas. Eu faço o contrário. Até hoje, eu tenho procurado uma explicação para tudo que tenho passado e para todos os cantos por onde passei. Ainda não me convenci completamente de que ter perdido certas oportunidades grandes de negócios teria sido o melhor para mim. Ninguém me tira da cabeça que eu seria mais feliz hoje, se eu tivesse feito um esforço maior para entrar num curso de medicina mais cedo, me formado mais cedo e feito a residência médica mais cedo, por exemplo.
Não que eu deseje mal aos outros, mas não me lembro de ter visto o Titanic daquelas pessoas que me passaram para trás afundar lá na frente. Não encontrei uma justificativa para suspirar aliviado por ter permitido que minha vida atrasasse. Dizem que nada acontece por acaso. Dizem que, se eu estava em determinado local e em determinado momento, foi porque Deus quis. Acredito Nele, mas ainda prefiro me questionar se determinadas posições minhas no tempo não foram frutos das escolhas erradas que eu fiz nas ocasiões erradas. Depois eu quero escrever mais sobre isto. Eu posso fazer um paralelismo entre os partidos que fizeram a Revolução Francesa e os divergentes grupos políticos dominantes do cenário político atual brasileiro.
Os girondinos, que eram a burguesia, seriam o PSDB e o DEM, partidos de direita conservadora, o partido do pântano ou da planície, no centro do parlamento, seria o PMDB, intermediário e flutuante, e os jacobinos, que, teoricamente, representariam os interesses populares, de esquerda liberal, seriam PT e saudações e companhia. Dentro deste último grupo, haveria uma ala de esquerda radical, dissidente da cúpula jacobina, a ala dos sans culottes, os "sem-calças". Poderia também incluir os "sem-terras", que, em nosso contexto atual, apesar de, teoricamente, defenderem a reforma agrária e o socialismo, vivem às margens do governo de esquerda que controla o Brasil. Os "sem-calças" foram massa de manobra dos outros jacobinos, e estes, dos girondinos, por algum tempo, até se sublevarem, durante a Convenção, ou "Tempo do Terror". E tome guilhotina.
"Bem aventurados os que crêem sem ter visto", disse Jesus à Tomé, que só creu na Ressurreição, ao ver o Mestre pessoalmente e tocar-Lhe nas chagas. Certamente, Jesus fez isso não apenas para testar seu apóstolo, mas também para deixar uma importante lição para a posteridade.
Como acreditar em algo sem ver ou sem sentir? Há coisas nas quais, mesmo vendo, não acreditamos. A recíproca também é verdadeira. Há coisas nas quais somos obrigados a acreditar sem ver ou palpar, sob pena de sofrer dissabores. A maioria de nós acredita no DNA, no átomo, nos microorganismos, nas ondas eletromagnéticas, no Papai Noel, na ida do homem à lua, nos medicamentos com poderes mágicos e até em promessas de políticos enquadrados pela Lei da Ficha Limpa, por exemplo. Por que não acreditar também em Deus, por exemplo??? Aí é questão de muito bom senso. E de fé também, é claro.
Como dizia um filósofo que se considerava agnóstico: "O mundo é grande, e, dentro dele, cabe tudo em que você puder pensar, até Deus, que é maior que ele". Depois eu quero escrever mais sobre a importância de se ter um Deus em quem acreditar e a Sua relevância para a razão de existir da nossa sociedade.
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