"O Brasil está de luto. Morreu a esperança que 35 milhões de pessoas depositaram num homem chamado Fernando Collor de Mello...". Essa frase iniciava uma mensagem divulgada na televisão, durante a campanha eleitoral municipal de 1992, em Fortaleza.
Busquei em todos os recantos da Internet alguma referência àquela mensagem, mas parece que ninguém além de mim se recorda dela, que ficou impregnada na minha memória. Aquela frase, embora tenha sido empregada num momento de debilidade nacional, aparentemente não trouxe vantagem nacional para quem dela se valeu e não alterou os rumos das campanhas.
Caso você não se lembre, 1992 foi um ano crítico para o Brasil. Em meados de setembro daquele ano, o então Presidente da República Fernando Collor de Mello foi afastado temporariamente do cargo, após uma votação, no Congresso Nacional, assim como ocorreu recentemente no Paraguai. Ele foi submetido a um processo de impeachment, sob acusação de envolvimento em um esquema de corrupção que seria capitaneado pelo empresário alagoano Paulo Cesar Farias, o PC Farias, conterrâneo do presidente e que lhe teria financiado a campanha presidencial, em 1989. Quatro anos depois, PC Farias foi encontrado morto, juntamente com sua namorada, em sua casa de praia, perto da capital alagoana. Em princípio, disseram tratar-se de um homicídio seguido de um suicídio, mas ainda restam dúvidas acerca disso, até hoje.
O fato de o movimento dos "caras pintadas" ter sido bem sucedido, em vez de me fazer sentir orgulho de ser brasileiro, pelo contrário, me deixa envergonhado, porque impeachment de um presidente, naquele momento, foi uma medida necessária, mas não deixa de ser algo que jamais deveria acontecer num país democrático, justo, honesto e desenvolvido.
Então, Collor foi afastado do cargo, mas não ainda não o teve cassado. Alguns meses depois, prestes a ser julgado pelo Senado, estrategicamente ele renunciou ao mandato. Apesar disso, ele foi julgado e foi declarado inelegível para cargos políticos, pelos oito anos seguintes.
Atualmente, Fernando Collor, que é neto do político gaúcho Lindolfo Collor, ex-ministro do trabalho, na Era Vargas, é senador pelo seu Estado, que é Alagoas, exercendo seu mandato alinhado com a base aliada do governo petista, que, outrora, foi seu oponente. Hoje, de longe, ele não lembra o que ele era, há vinte anos. Outrora, ele era réu, e agora, ele é juiz, porque, agora, ele atua como um paladino moralista e defensor da ética na política, desde que assumiu o posto de presidente da CPI que investiga o caso Cachoeira. Um dia da caça, outro do caçador. Um de seus principais passatempos é o de fazer acusações muito graves contra o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, que é cearense como eu e promotor do caso Mensalão, de crimes como "prevaricação, improbidade administrativa, crime de responsabilidade e chantagem", e exige que o procurador seja convocado para depor em sua CPI. Ora, o que ele ganha querendo colocar o procurador no banco dos réus??? Não deveriam estar ambos do mesmo lado, haja vista que ambos teoricamente têm os mesmos objetivos, que seriam chegar à verdade e fazer justiça???
O que nós ganhamos com tanto vai-e-vem e com tanta reviravolta na política brasileira??? Não ganhamos muito. Depois quero conversar sobre o que realmente mudou na vida do brasileiro, nos últimos vinte anos. Se mudou para melhor ou para pior, isso se deve a múltiplas causas combinadas, não podemos atribuir a culpa à uma só pessoa ou à um só partido político. Cada um de nós teve alguma participação relevante para mudar a cara do Brasil, que não está mais de luto, porém precisar baixar um pouco as asas, porque está otimista demais e parcimonioso de menos.
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