É chegada a famosa sexta-feira do feriadão americano de Ação de Graças, a Black Friday, marcada por promoções no comércio dos Estados Unidos, que se expandiram por todo o mês de novembro e por todo o mundo. O título desta postagem é resultante da combinação do termo Black Friday com o título da música Sunday Bloody Sunday, do U2, que faz alusão a um massacre ocorrido na Irlanda, nos anos 1970.
Estamos fazendo alusão combinada a esses dois eventos, porque, como você já deve saber, a sexta-feira 13 deste mês também foi considerada uma sexta-feira negra, urbi et orbi, assim como aquela semana inteira que a precedeu. Foi uma semana assinalada por pelo menos três tragédias que afetaram o Ceará, o Brasil e o mundo.
Aquela semana começou com as consequências do rompimento de uma barragem, no interior de Minas Gerais, que devastou uma localidade rural do município de Mariana e as vidas de muitas famílias, além de poluir o rio Doce, principal manancial de água potável da região, comprometendo ecossistemas, economias e sobrevivências de quem vive no leste de Minas Gerais e em partes do Espírito Santo por onde corre o rio, que arrasta metais pesados e outros poluentes oriundos dos trabalhos de mineração executados naquela barragem. Gastou-se tanto dinheiro e material na busca de metais aparentemente preciosos, que acabou-se perdendo muito do que há de mais precioso para a sobrevivência humana: água potável.
Na mesma semana, houve uma chacina em um bairro da periferia de Fortaleza, com pelo menos 10 mortos, sem motivação aparente ou evidente. Ainda em Fortaleza, na mesma semana, pelo menos 03 policiais assassinados, em tentativas de assaltos.
Para fechar aquela semana, na sexta-feira 13, houve aquela série de atentados em Paris, quando bombas explodiram num estádio de futebol e franco-atiradores fuzilaram inocentes em bares, restaurantes e boates de zonas turísticas.
O que todos aqueles eventos podem ter em comum??? Eles são provas de que, em qualquer lugar do mundo, em distintos graus, há generalizados abandono, descaso e desrespeito com a vida humana pelo poder público, que não provê aos cidadãos aquilo de que necessitam para viver com qualidade de vida e ser felizes, como, por exemplo, saúde, educação e segurança. Ou seja, o Estado não é capaz de proteger qualquer um. Estamos todos vulneráveis.
No Brasil, cuja realidade conhecemos melhor, percebemos que a violência está fora de controle. Mesmo assim, somos capazes de nos sensibilizarmos com o que acontece além mar, nos expressando e nos solidarizando com os afetados por aqueles eventos, nas redes sociais, mas não olhamos tanto para o que acontece em casa. Quiçá as nossas tragédias domésticas já não mais nos surpreendam ou nos emocionem tanto, porque vivenciamo-las em prestações e porque a violência aqui já está bastante banalizada. Por isso, já não mais a levamos tanto a sério. Não precisamos de um Estado Islâmico aqui para tentar desestabilizar e infernizar nossas vidas. Já produzimos nossos maiores inimigos no dia a dia. Num momento oportuno, conversaremos sobre o porquê da existência de grupos como o Estado Islâmico.
Encerra-se a postagem com um poema de Carlos Drummond de Andrade, escritor mineiro falecido em 1987, que veio à tona, recentemente, mas que já antevia o perigo que o rio Doce corria, há mais de 30 anos. Antes, recomendamos que, se quiser rezar por Paris, fique à vontade, mas não se esqueça de rezar também por sua terra, pelo Brasil e pelo mundo. Recomendamos também que se procure dar mais valor à vida humana do que às compras compulsivas.
IO Rio? É doce.A Vale? Amarga.Ai, antes fosseMais leve a carga.IIEntre estataisE multinacionais,Quantos ais!IIIA dívida interna.A dívida externaA dívida eterna.IVQuantas toneladas exportamosDe ferro?Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Tenha um bom final de semana e boas compras, se for o caso.
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