Estava aqui matutando com meus botões sobre como tenho aproveitado meu tempo, não apenas neste carnaval que passou, mas ao longo de toda a minha vida. Como você já sabe, não curto o carnaval da mesma maneira que outros brasileiros. Sou meio casmurro. Sou quase um estrangeiro em minha própria terra. De qualquer maneira, não me arrependo de ter passado o feriado botando em dia as leituras das minhas pilhas de livros. Não consegui obter 100% de aproveitamento, mas tive um desempenho satisfatório. Consegui diminuir um pouco estas pilhas sobre minha mesa. The book is on the table.
Ler é sempre bom. Ainda que não se tenha em mãos o livro mais indicado para se informar acerca de determinado assunto, este livro que está com você pode funcionar como uma espécie de São João Batista, abrindo a mente para a entrada de novos conhecimentos e gerando um feedback positivo, estimulando cada vez mais a vontade e a necessidade de leitura, desde que sua leitura seja aprazível e saiba prender sua atenção, porque também existem livros cuja leitura é impalatável e indigesta.
Por mais que tente esquecer o passado e reescrever minha história, tentando aproveitar melhor o tempo presente, sinto que o futuro ainda está muito preso ao passado, pois ainda estou pagando por erros que cometi, como, por exemplo, ter desperdiçado aqueles cinco anos. Deve ser por isso que, todas as vezes que vejo outras pessoas ao meu redor bebendo de um certo tipo de vinho de determinada safra, observo-lhes os fácies de satisfação, com o vinho descendo-lhes suave pelas gargantas. No entanto, quando é chegada minha vez de provar desta mesma garrafa de vinho, seu sabor é azedo como vinagre e me sinto como se estivesse engolindo areia.
O tempo passa e não passo com ele, porque ainda não me agarro à ele e não tomo atitudes e decisões importantes, nos momentos certos. Sinto como se o mundo mudasse, mas eu não conseguisse mudar com ele, por não conseguir acompanha-lo à contento. Tudo bem que, apesar de tanto tempo perdido, obtive progressos significativos, nos últimos quinze anos, mas ainda não cheguei aonde deveria ter chegado, depois de tanta luta.
Vejo outros caras da minha idade, muitos deles já estão com famílias constituídas e com situações profissionais bem definidas. Sinto que está chegando a hora de dar um neto ou uma neta aos meus pais. Precisamos logo disto, eu preciso ser pai, e eles, avós, para dar um sentido às nossas existências e podermos dar continuidade aos ciclos de nossas vidas. É assim que deve ser, pois o tempo urge.
Tenho estabelecido algum contato superficial com meus antigos companheiros de caminhada, de todas as épocas, por meio das principais redes sociais. Tenho observado que muitos deles talvez não estejam tão bem como eu, financeira e profissionalmente falando, mas, com certeza, eles estão sabendo viver, pois estão viajando bastante, estão se divertindo, estão interagindo entre eles, estão sabendo investir seus recursos, enfim, estão aproveitando a vida melhor que eu.
Homem de trinta e um anos, solteiro, sem filhos, médico ainda na condição de residente, ou seja, médico com "m" minúsculo, com patrimônio escasso e morando com os pais. Até onde sei, dentre as pessoas com as quais convivi diretamente, nos lugares por onde passei, nos últimos quinze anos, ninguém apresenta um perfil como este que acabei de descrever, um perfil de alguém que sempre pensa que está ficando para trás, em relação ao restante da humanidade, e que sempre tem a impressão de estar sendo atropelado por membros de gerações posteriores, que o passaram para trás, durante aquele limbo de anos pouco produtivos e indefinidos que representou a Idade Média do indivíduo.
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