Agora que as nossas eleições municipais cessaram, embora suas repercussões ressoem ainda por muito tempo, voltemos a repensar o futuro do Brasil. Na verdade, o Jardim das Garrafas Digitais nunca parou de fazer isso, apesar das pausas e das aparentes ausências.
Falando em futuro, neste fim de semana em que aconteceu o ENEM em quase todo o país, exceto nos recantos em que instituições de ensino onde seriam aplicadas as provas encontram-se ocupadas por estudantes que protestam contra a reforma curricular do ensino médio estabelecida pelo novo governo, cabem aqui algumas considerações sobre a forma como a educação tem evoluído no Brasil, desde os tempos da palmatória ao uso didático dos tablets em salas de aula.
Para começo de conversa, se as provas foram adiadas para alguns candidatos, o mais sensato seria adiar de uma vez para todos. Assim, o princípio de isonomia seria respeitado para todos, e seriam minimizados os custos e os desgastes com a aplicação do mesmo certame duas vezes.
Seria interessante você saber que ciências como a matemática, a física e a química, com todas as suas fórmulas, por exemplo, não foram meras invenções de alguém que não tivesse o que fazer apenas para encher cabeça de estudante. Muito além disso, partindo-se de princípios filosóficos, alguns estudiosos saíram em busca da explicação e da padronização dos fenômenos naturais, tentando traduzi-los em letras e números. Daí eles desenvolveram as mais diversas ferramentas que permitissem explicar como funcionam a vida e a natureza, para, a partir de então, desenvolver coisas novas, como o computador com seus programas ou novos tratamentos para diversos tipos de câncer, por exemplo. É por isso que existem logaritmos e progressões aritméticas e geométricas, por exemplo. É assim que se faz ciência. Daí a importância da integração de conhecimentos de diversas áreas que o ENEM busca fomentar nos estudantes, mais do que nunca.
Falando em integração, fala-se muito em educação em tempo integral como uma panaceia para resolver todos os problemas da educação no Brasil, como se manter o aluno o dia inteiro confinado à escola fosse a solução para aumentar seu QI (quociente de inteligência) e diminuir a possibilidade de ele vir a optar pela criminalidade. Será tão simples assim mesmo??? E como ficam os estudantes que trabalham e os que estudam à noite???
Há de se observar que o estudante de qualquer nível, como qualquer ser humano, não deve ter sua vida resumida meramente ao contexto escolar ou acadêmico, principalmente quanto mais velho ele for e precisar também trabalhar para sobreviver e precisar também de uma vida social e espiritual. Tempo integral é uma ideia já não mais tão defendida nem mesmo dentro do ensino superior. Até bem pouco tempo atrás, em muitas faculdades de medicina, por exemplo, as grades curriculares eram baseadas em cargas horárias de até 40 horas semanais, o que significava uma maratona de aulas de segunda à sexta-feira, manhã e tarde. Essas cargas horárias poderiam ser extrapoladas nos semestres dos estágios práticos, geralmente os quatro últimos. Entretanto, alguém enxergou que poderia otimizar a formação de um médico, retirando da grade curricular disciplinas consideradas prescindíveis, redesenhando a forma de ministrar as demais disciplinas e reduzindo um pouco a carga horária de aulas presenciais. Esse alguém percebeu que o aluno estava se afogando com muitas aulas e não estava com tempo adequado para estudar e assimilar adequadamente os principais conhecimentos adquiridos. Os resultados dessa reforma curricular na formação dos novos médicos não tardarão a ser apreciados.
Como dito, o mundo há de, cada vez mais, exigir mais de nossos filhos do que tem exigido de nossa geração. Por isso, devemos ter o devido respeito pelas futuras gerações e cuidar melhor delas, para que possamos esperar delas tratamento recíproco.
Tenha uma boa semana.
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