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terça-feira, 16 de abril de 2013

A arte de escrever


                          Por esses dias, estava lendo um livro chamado "A Arte de Escrever", de Artur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX. O livro apresenta reflexões contundentes sobre os empregos da língua e da literatura alemãs, em sua época. Ele critica, por exemplo, a falta de compromisso com a qualidade técnica e com a clareza das mensagens expressas, nos materiais que eram escritos e publicados nos meios de comunicação da época, por parte de muitos dos profissionais ou diletantes que escreviam para livros e jornais, bem como por parte dos mestres e estudiosos da língua alemã.

                          Criticavam-se também aqueles que, segundo Schopenhauer, escreviam qualquer coisa sem significado e sem objetivo, apenas com o intuito de ganhar dinheiro. Para ele, os meios de comunicação e as autoridades em educação não estavam agindo em defesa da língua alemã, que, segundo ele, era pura e superior, comparada às outras línguas faladas na Europa. Denunciava-se que a língua alemã estava se tornando menos formal e mais vulgar, à medida em que ia se tornando mais popular, sendo dilapidada pelos meios de comunicação de massa, pelos professores que a ensinavam e a aplicavam como bem entendiam e pela população em geral.

                          Esse processo de "vulgarização" não aconteceu apenas com o alemão. Todos os idiomas estão sujeitos às mais diversas transformações, passando por várias adaptações, ao longo do tempo, enquanto são utilizados por diversos grupos sociais e em diversos contextos. Foi assim com o próprio latim, cujos desdobramentos deram origem ao português, por exemplo. Do mesmo modo, nosso português é bem distinto do português de Portugal, assim como o inglês dos Estados Unidos é bem distinto do inglês do Reino Unido, e o espanhol da América Latina é bem distinto do espanhol da Espanha.

                          Acredito que esse livro tenha sido uma das inspirações para Hittler, pelo seu implícito arianismo, enaltecendo o idioma alemão acima dos demais, e por sua xenofobia explícita, chegando ao ponto de se referir, por exemplo, aos italianos como "fanfarrões desavergonhados".
                           
                          Entretanto, estou comentando sobre este livro, porque me identifiquei com ele, em parte. Como já devo ter dito antes, não sou perfeccionista, nem procuro escrever minhas postagens tão rigorosamente, seguindo ao pé da letra todas as regras gramaticais, como se estivesse escrevendo uma redação para o vestibular, mas procuro escrever conteúdo de qualidade, de maneira que a mensagem seja a mais clara e objetiva possível.

                          Notei que o livro em questão menciona que, no século XIX, já existia algo parecido com o que observamos nos meios de comunicação atuais, especialmente na Internet: o fato de que qualquer pessoa pode escrever e publicar o que bem quiser, mesmo que seja com o intuito de ofender outras pessoas, podendo valer-se do anonimato, mas sem deixar de desfrutar algumas horas, dias ou semanas de fama. A obra defende que a responsabilidade sobre tais publicações ofensivas seja imputada aos órgãos publicadores, haja vista eles permitirem a divulgação desse tipo de material, mesmo sabendo-o ofensivo e de autoria anônima.

                          O melhor de tudo é que esse livro me ajudou a apaziguar minha consciência, especialmente quando ele diz que, de tudo aquilo que se lê, pouca coisa fica guardada na memória. Pensava que apenas eu tivesse esse problema de memorizar o que se leu, mas ainda posso completar, dizendo que o pouco que fica guardado pode ressurgir mais tarde, ao ser evocado. E, conforme dito antes, cada livro que lemos, mesmo que não seja o melhor e o mais adequado para se ler sobre determinado assunto, ajuda a abrir a mente. O segredo é procurar ler mais de uma vez sobre o mesmo assunto, mas em fontes distintas. Afinal, ninguém pode se considerar o dono da verdade.

                          Por isso, tenho planos de escrever um livro, reunindo meus pensamentos e minhas experiências apresentadas aqui, juntamente com outras inéditas, para as quais ainda não consegui dar vazão satisfatória, bem como para meus mais diversos planos, o que me faz sentir como se fosse uma chaleira. Conversaremos mais sobre isto em breve. Enquanto isto não acontece, sugiro que você também visite e conheça o blog bilíngue da minha irmã, estreante na blogosfera, o "Versando e Conversando".

                         

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