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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Última tentação


                          No sábado de aleluia, enquanto estava ocioso, durante um plantão, matei uma antiga curiosidade, assistindo a um filme que é considerado um dos mais polêmicos da história do cinema, "A Última Tentação de Cristo", e descobri porque foi um longa metragem tão estigmatizado.

                          O filme foi considerado profano, porque apresentou uma imagem distorcida de Jesus Cristo, bem diferente daquela que conhecemos. Ele apresentou um Jesus indeciso, indeterminado, inseguro e que, por vezes, tinha alucinações auditivas e visuais que o avisavam sobre o que ele era, sobre o que deveria fazer e, às vezes, até ludibriá-lo.

                          Em verdade, sabemos que o verdadeiro Jesus Cristo sempre soube quem Ele realmente era, qual a sua missão neste mundo, pelo menos desde que, por volta de seus doze anos, ficou conversando no Templo com os sacerdotes e deixou seus pais viajarem de volta à Belém sozinhos, e que Ele sempre foi firme nas Suas atitudes. Nunca vacilou, na realização de Seus milagres e de Suas curas.

                          Aqueles expectadores incautos que não conhecem a Palavra poderiam se deixar enganar, mas, no começo do próprio filme, há uma advertência de que aquela não seria, de fato, a história real de Jesus Cristo. Seria apenas uma obra fictícia, apresentando uma metáfora dos conflitos humanos representados em um ser que é metade homem e metade divindade.

                          Confesso que me senti motivado a comentar este filme aqui porque, grosso modo, me identifiquei com o protagonista. Como médico, que, em geral, é um ser idealizado e endeusado, perante a comunidade, admito que, por vezes, não me sinto com a solidez que minha presença transmite e não me sinto tão capaz assim de passar toda a autoridade e toda a confiança que esperam de mim.


                          Jesus Cristo real, de certa forma, também sofria muito, por ser quem Ele era e por ver tanto sofrimento ao seu redor, mas Ele aceitou sua identidade e sua causa com convicção. Em nenhum momento, Ele demonstrou que desejava uma outra vida como alternativa àquela ou que jogaria a toalha, embora tenha sido tentado a fazer isto, algumas vezes, como aconteceu nos quarenta dias de jejum no deserto e também no Monte das Oliveiras, ocasião na qual Ele suou sangue, e, mais uma vez, o Concorrente, aproveitando-se de um daqueles momentos de fraquezas ao qual todos estamos sujeitos, foi visitá-lo e tentou dissuadí-Lo de se entregar para ser executado. Esta teria sido a Sua última tentação, fato que também foi retratado no filme "Paixão de Cristo", de 2003, dirigido e produzido por Mel Gibson.

                          Em suma, o foco principal do filme "A Última Tentação de Cristo" não é uma suposta queda de Jesus por Maria Madalena. Não nos cabe julgar se isto aconteceu mesmo ou não. O foco principal são os conflitos daquele Jesus fictício consigo mesmo e as dificuldades que Ele enfrentava em aceitar a si mesmo e à sua missão, desejando que houvesse uma outra opção para sua vida.   

                          Como escrevi bastante hoje sobre o sofrimento de Jesus Cristo, lembre-me que, logo mais, precisamos conversar e refletir sobre o sofrimento desmedido e desnecessário impingido ao próximo, pois, como você sabe, para viver nesta sociedade competitiva, precisamos sofrer um pouco e fazer, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, que nossos semelhantes também sofram um pouco. Deixo aqui o nosso mote.     

                                         

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