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domingo, 11 de março de 2012

Em busca da fonte da juventude 6


“Os amados por Deus nunca envelhecem, pois levam em si aquele que é o mais jovem de todos.”
Santo Agostinho


Falando em juventude, lembro-me de um filme que vi, há alguns meses, chamado “O retrato de Dorian Gray”. Baseado em um livro do famoso e polêmico escritor e dramaturgo anglo-irlandês Oscar Wilde, o filme versa sobre a história de um rapaz que, ao receber uma herança de seu avô, muda-se para a mansão deste, em Londres, onde passa a ter uma movimentada vida social. O motor de sua vida social badalada não é seu dinheiro, mas o fato de Dorian apresentar uma beleza física excepcional para os padrões masculinos do final do século XIX. Sua presença sempre atrai os olhares femininos.

Um amigo seu, que é pintor, faz-lhe um retrato de corpo inteiro. Ao admirar a obra, logo depois de pronta, Dorian desabafa que gostaria de ver o Dorian que está no quadro envelhecendo em seu lugar, para que ele pudesse preservar sua fisionomia atual intacta. Depois disso, sob a influência de seu amigo Lord Henry, ele decide de vez, cair na balada, como se diz na gíria atual, e levar uma vida devassa, regada a bebidas, drogas alucinógenas e mulheres (às vezes, homens). 

Ele chega a conhecer uma atriz de teatro e noivá-la. Neste momento, ele se vê diante de um dilema: casar-se, estabelecer-se como homem de família e cidadão e envelhecer placidamente ao lado de sua amada, ou optar por permanecer na boemia, usufruindo de sua riqueza material e de sua eterna beleza física para “curtir a vida”. Ele escolhe a segunda opção. Decepcionada, a moça comete suicídio. Alguns meses depois, ele percebe que aquele seu desejo se realizou. Começa a notar que o personagem do quadro não só está envelhecendo rapidamente, como também está entrando em decomposição, como se fosse um cadáver.

Quando manifestou aquele desejo, seria como se Dorian estivesse transferindo parte de seu id, ou seja, a sujeira de seu inconsciente, de maneira inconsciente, é claro, para o quadro. Aqui vejo que há uma semelhança com “O médico e o monstro”. A diferença é que o mr. Hyde de Dorian Gray, mesmo transferido para o quadro, permanece em Dorian e nele se manifesta, embora apenas internamente, pelas suas atitudes. Ele passa de herói a vilão, quando, em vez de procurar se livrar dessa maldição, ele se mostra oportunista em relação ao seu “dom”, e chuta o balde de vez, tornando-se mais devasso e mais egoísta ainda. Quando o próprio artista que fez o quadro descobre o que aconteceu, Dorian mata-o, para preservar seu segredo.

A pergunta que a história faz a quem com ela tiver contato, seja por livro ou pelo cinema, é a seguinte: você acha que vale a pena parar no tempo para usufruir de coisas passageiras e que nada nos acrescentam, deixando de viver a vida em seu curso normal, como qualquer ser humano, aproveitando as melhores coisas que ela nos tem a oferecer, ao lado das melhores pessoas que nós conhecemos???

Se Dorian fosse real, ele logo perceberia, com o passar dos anos, que as pessoas de seu círculo social envelheceriam, mudariam suas visões de mundo e seus comportamentos e morreriam. Ele poderia até arranjar novos amigos depois, mas estes também morreriam, cedo ou tarde, mas, antes mesmo disso, ele já estaria se sentindo discriminado e sozinho, sempre. Ele passaria mais ou menos pelo que eu passei, quando eu era garoto. Até uns 8 ou 9 anos de idade, eu brincava com os coleguinhas de colégio de brincadeiras como pega-pega, esconde-esconde, Jô-ajuda, Jôa-cola, entre outras. Quando cheguei na antiga 4ª série do 1º grau, ninguém mais queria brincar comigo. Em algum momento, Dorian se perguntaria se valeria a pena continuar vivendo eternamente a vida daquela maneira, haja vista que ele já teria vivido tudo que valia a pena ser vivido. Ele teria “curtido a vida” até a exaustão.

Eu entendo que todo mundo quer permanecer jovem e teme o seu fim, mas penso também que a vida é um processo dinâmico. Hoje estamos aqui, amanhã estaremos acolá. Depois, só Deus sabe. Há quem diga que só os gatos têm outras vidas. O importante é que o sentido desta vida é seu dinamicismo. Nós somos passageiros. Não fomos programados para durar para sempre, pelo menos fisicamente falando. Por isso, sou contra a criogenia. Uma vez que a máquina humana é desligada, ela fica inutilizável. Não há como religá-la e, mesmo que houvesse, não faria sentido reprogramá-la para viver em um mundo fora de seu contexto, depois de já ter vivido tudo a que tinha direito.

Se você tem alguma fé, preserve-a com carinho e tente aumentá-la. Pelo menos você tem uma tábua de salvação e pode se dar o luxo de acreditar que alguém já superou todo esse paradigma que expus neste texto, para que depois nós também possamos superá-lo.

 Para encerrar o assunto, deixo aqui a canção “When I’m 64”, dos Beatles, música composta por Paul McCartney, aos vinte e cinco anos de idade, em homenagem ao seu pai. Deixo também um episódio dos desenhos antigos do Pica-Pau, no qual ele aparece velho e relembrando sua infância. Esses itens me ajudaram a pensar sobre a juventude e a velhice.

NOTA: Eu quase não pude postar os dois videoclipes a seguir, porque o ECAD pretendia começar a cobrar taxas de todos os blogues que anexam vídeos do Youtube em suas postagens. Mas parece que tudo não passou de um mal entendido e que já foi devidamente esclarecido. O ECAD fez bem em recuar, até porque deve ficar com as barbas de molho, pois já está sendo investigado de uma CPI que tramita no Senado, há alguns anos.








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