"Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. (Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei: a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes”.
Eclesiástico 38,1-3
Agradeço àqueles que me
cumprimentaram pela recente passagem do Dia do Médico, embora tenha cá
minhas dúvidas se realmente mereço tais cumprimentos, além de elogios, e
se realmente há algo que valha a pena ser comemorado, porque me
reconheço como um ser falho e frágil, porque o governo está tomando
medidas contra nossa categoria, porque somos vistos como caranguejos
por uma parte da imprensa, porque até integrantes do MST (Movimento dos "Sem-Terra"), se acham no direito de invadir a sede do nosso conselho regional de medicina, em Fortaleza, aparentemente acreditando que o conselho é
culpado pelo fato de muitos médicos não trabalharem no interior e não
atenderem nos assentamentos rurais.
Como se não bastasse, estou coberto de vergonha, depois que uma colega aparentemente perdeu a cabeça no trânsito e atropelou dois ocupantes de uma motocicleta, provocando as mortes de ambos, em Salvador. E o que esse episódio tem a ver comigo??? Me envergonho porque a sociedade nunca espera dos médicos atitudes como aquela. Não posso julgar, porque não conheço as circunstâncias do fato, tampouco os envolvidos, mas sabemos que qualquer um está sujeito a passar por uma situação como aquela, em qualquer um dos lados envolvidos. Mesmo assim, temos o dever de tentar evitar que tragédias assim aconteçam, dentro de nossas possibilidades, buscando o equilíbrio, em nossas atitudes, procurando manter o coração sempre aberto.
Como se não bastasse, estou coberto de vergonha, depois que uma colega aparentemente perdeu a cabeça no trânsito e atropelou dois ocupantes de uma motocicleta, provocando as mortes de ambos, em Salvador. E o que esse episódio tem a ver comigo??? Me envergonho porque a sociedade nunca espera dos médicos atitudes como aquela. Não posso julgar, porque não conheço as circunstâncias do fato, tampouco os envolvidos, mas sabemos que qualquer um está sujeito a passar por uma situação como aquela, em qualquer um dos lados envolvidos. Mesmo assim, temos o dever de tentar evitar que tragédias assim aconteçam, dentro de nossas possibilidades, buscando o equilíbrio, em nossas atitudes, procurando manter o coração sempre aberto.
Pensando melhor, temos o que festejar sim, no
Dia do Médico, porque, apesar de muitos nos verem como seres indolentes,
insolentes, negligentes e gananciosos, ainda fazemos a diferença, para
muitas vidas. Ainda tenho um longo e estreito caminho pela frente, até
chegar à 1% da perfeição, mas, particularmente, comemorei fazendo o que
sei fazer melhor: atendendo.
Ainda não me sinto plenamente capaz de oferecer
tudo aquilo que a sociedade espera de mim, mas, como já devo ter dito,
não me arrependo de ter seguido este caminho, pois não creio que outro
caminho tivesse me conduzido aonde cheguei, tampouco me propiciado
igualmente tudo que tenho. Sempre muito grato à Deus por estas conquistas. Além disso, não me arrependo de ter semeado o
bem e feito a diferença para muita gente, nos lugares por onde passei,
embora, por vezes, perguntasse a mim mesmo algo como "o quê que eu tô fazendo aqui".
Entretanto, para um médico aspirante à
psiquiatra, ainda tenho uma visão muito biológica da realidade. Este é
um de meus calcanhares de Aquiles, sobre o qual discorrerei mais
aprofundadamente, em outro momento. Por enquanto, preciso contar um fato
recente, que me fez ver o quanto sou neuropsicobiologista. Há alguns
dias, atendi uma paciente muito deprimida, com ideação suicida e
comportamento autodestrutivo, apesar de estar tomando dois
antidepressivos simultânea e diariamente, sendo um deles um dos mais
fortes e em doses cavalares. Você deve estar percebendo a gravidade da
situação. Então pedi ajuda a um amigo da residência. Meu objetivo era obter a
opinião de alguém para indicar uma possível internação ou não, haja vista a
paciente ter pobres suportes social e familiar, além de parcos planos
para um futuro imediato, o que me deixou com medo de deixa-la ir embora
para sua casa e, possivelmente, tentar suicídio. Então, meu amigo
sentou-se e pediu para que a paciente falasse à vontade, sobre tudo que
estava sentindo. Notei uma discreta melhora em seu semblante, como se
tivesse descarregado um fardo. Trocamos uma das medicações e me senti
seguro em libera-la. Depois, à parte, o amigo me disse que percebera meu
desespero, que já conhecia a paciente e que tudo que ela precisava era
ser ouvida, apenas isso. Quanto a isto, não tenho dúvidas. Sou ciente de
que muitos transtornos psiquiátricos não podem ser tratados apenas com
medicamentos, porque eles sozinhos não resolvem os problemas.
Precisam-se de terapias complementares e paralelas, como a psicoterapia,
por exemplo. Admito que, naquela ocasião, estava mais preocupado com o
aspecto psicofarmacológico.
Então, como já devo ter dito, por vezes quero
que o tempo passe logo, mas ao mesmo tempo tenho medo de terminar logo a
residência, assim como tive medo paradoxal de terminar a faculdade, há
três anos, e de andar de bicicleta sem rodinhas, há vinte e cinco anos,
porque tive e ainda tenho algum medo de não conseguir caminhar sozinho,
com as próprias pernas, assim como resolveu fazer Bell Marques,
ex-vocalista do Chiclete com Banana, "um novo jeito de caminhar",
segundo ele, e medo de não ter a quem pedir socorro e de não conseguir
pedir socorro, além do medo de errar feio.
De qualquer maneira, é melhor errar feio do que não fazer algo, com medo de errar, desde que não se tenha habilidade alguma e não se saiba o que está fazendo. Como diria Platão, "a necessidade que é a mãe da invenção". Por vezes, nos vemos obrigados a lançar mão do improviso, quando não sabemos o que fazer ou quando sabemos o que fazer, mas nos faltam recursos para fazê-lo. E, como diria Shakespeare, "você aprende que não importa aonde já chegou, mas para onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve", e acrescento: desde que seja um bom lugar e escolhido com bom senso. O mais importante é não ficar parado e sem atitude, quando for requisitada sua ajuda.
De qualquer maneira, é melhor errar feio do que não fazer algo, com medo de errar, desde que não se tenha habilidade alguma e não se saiba o que está fazendo. Como diria Platão, "a necessidade que é a mãe da invenção". Por vezes, nos vemos obrigados a lançar mão do improviso, quando não sabemos o que fazer ou quando sabemos o que fazer, mas nos faltam recursos para fazê-lo. E, como diria Shakespeare, "você aprende que não importa aonde já chegou, mas para onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve", e acrescento: desde que seja um bom lugar e escolhido com bom senso. O mais importante é não ficar parado e sem atitude, quando for requisitada sua ajuda.
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