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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Idolatria


                      Não concordo com essa onda de endeusar o ministro Joaquim Barbosa, novo presidente do STF, nas redes sociais. Já estão esticando a baladeira demais, ao compará-lo aos heróis dos quadrinhos. Tudo bem, admiro-o por sua história de vida, por ser um homem de origem humilde e afrodescendente que conseguiu vencer na vida por esforço próprio, mas ele nada fez de extraordinário. Ele apenas fez o seu metiê de magistrado. Quiçá muitos dos internautas tenham se surpreendido com o fato de ele ter demonstrado coragem, ao julgar os réus do caso Mensalão com imparcialidade, sem se deixar intimidar pelo fato de os réus serem antigos aliados do governo.

                    
                     No entanto, o referido ministro ainda é um ser humano, como qualquer um de nós, resguardadas, obviamente, as devidas proporções, mas, provavelmente, ele também não é o personagem que a revista Veja, por exemplo, parece querer idealizar, ao colocá-lo na capa de uma de suas edições mais recentes. Sua vida particular não deve ter algo de muito excepcional, como você deve estar pensando. Mesmo em sua vida profissional, o ministro também errou, algumas vezes. Houve situações em que ele chegou a ser meio antiético e faltar com o respeito aos outros ministros do Supremo, protagonizando vários bate-bocas nas sessões da corte. Como já havia dito antes, espero que me perdõem aqueles internautas do Facebook, mas a magistrada aposentada e ex-deputada federal Denise Frossard é que mereceria o papel de heroína, por ter dito certas verdades sobre o crime organizado que ninguém mais ousaria dizer.


                       Falando em revista Veja, veja como o mundo dá voltas. Segundo o blog "Um Asno", há alguns anos, o colunista Reinaldo Azevedo publicou um artigo no qual diz que jamais elogiaria o referido ministro, em seu espaço. Pois bem, anos depois, ele está fazendo o contrário. Tudo bem, entendo que as pessoas têm o direito de reverem seus conceitos e mudarem de opinião, de tempos em tempos. Entendo também que a opinião do articulista não expressa necessariamente a opinião oficial da revista, a respeito de determinado assunto. O que está me intrigando é a maneira pela qual a revista Veja, que sempre se mostrou uma publicação tendenciosa, mais do que uma formadora de opinião, está tirando proveito da situação.

                       Não sei se você percebeu, mas, desde que Lula assumiu a presidência, em 2003, a revista publicou algumas edições com matérias de capa que atacavam Lula e seu governo, por vezes acusando-o diretamente de corrupção. Esse periódico semanal nunca havia criticado tão descaradamente um governo. Nos tempos de FHC (Fernando Henrique Cardoso), isso não acontecia. Agora, no governo Dilma, a publicação parece ter sossegado um pouco, pois não está veiculando ataques diretos contra a presidenta, mas está enaltecendo a imagem do novo herói nacional, o ministro Joaquim Barbosa, em detrimento da imagem do PT, o Partido dos Trabalhadores (pelo menos no nome) e de suas administrações federal, estaduais e municipais.


                       Nunca senti tanto asco da Veja, como sinto agora, apesar de, há três anos, ela haver publicado uma reportagem caçoando de Sobral. Se bem que, aquela reportagem, não a condenei totalmente, porque nela constavam algumas verdades. Hoje, além de Sobral, praticamente todo o Ceará, inclusive sua capital, está sob controle de uma facção supostamente socialista, que compõe a base aliada do governo federal.

                       Não escrevo em defesa dos petistas, mas a mensagem equivocada que está sendo passada ao povo brasileiro é a de que o PT seria um partido desprezível, só porque alguns de seus membros foram julgados e condenados por envolvimento em um esquema de corrupção, como se os outros partidos políticos, como o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), por exemplo, fossem totalmente idôneos.

                       À propósito, me perdõe pelas perguntas, mas, foi coincidência ou não o julgamento do Mensalão do PT se desenrolar justamente durante a campanha eleitoral deste ano??? E por que o Mensalão tucano, que é mais antigo, ficou para ser julgado somente agora???

                       De qualquer maneira, ao meu ver, os resultados do julgamento do Mensalão foram justos. Não parece ter havido influência midiática significativa no processo. Para os padrões brasileiros, fez-se justiça. Pelo menos desta vez, não houve impunidade.



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