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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Flagrante do cotidiano 14


                        Estou só passando aqui hoje mais para deixar registrada, embora com mais de uma semana de atraso, a passagem de um evento significativo, pelo menos para mim e para aqueles que estão na foto a seguir.

                       Na manhã do último dia 24, fui tomado de surpresa, ao desembarcar em meu segundo hospital de formação médica, o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), o nosso Hospital das Clinicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), por uma festividade no saguão principal, alusiva ao aniversário de 53 anos desta instituição de elite, que é referência na formação médica urbi et orbi, da qual tenho a honra de fazer parte e, que, como já devo ter escrito em outras oportunidades, continua a ser soberana como uma rainha em uma terra de cegos. Tanto é que nosso querido HU (Hospital Universitário), ou HC (Hospital das Clínicas), se preferir, acaba de emplacar seu milésimo transplante renal, antes mesmo que o veterano artilheiro Túlio Maravilha conseguisse retornar ao Botafogo, clube pelo qual sagrou-se campeão brasileiro, em 1995, e pelo qual pretende marcar seu milésimo gol.

                        Bem, como tudo que é bom dura pouco, a festa acabou. Agora é hora de aproveitar esse mote para falar sério e tecer mais um comentário de teor crítico, não contra meu hospital, mas contra a maneira como a saúde pública vem sendo depreciada em nosso país.

                        Não morro de amores pela Rede Globo, nem pretendo aplaudir de pé sua programação, porém, mais uma vez, me vejo obrigado a, como diziam os antigos, estender a mão à palmatória, depois que o Fantástico transmitiu mais uma daquelas suas reportagens investigativas e contundentes. Desta feita, o programa denunciou esquemas de fraudes contra o Sistema Único de Saúde (SUS), em regiões distintas do país. Foram apresentadas situações em que cidadãos, inclusive crianças, tiveram seus nomes utilizados à revelia para forjar internações em hospitais privados que prestam serviços ao SUS, com o intuito de que essas instituições recebessem pagamentos por serviços que não foram prestados.

                         Isso lembra um pouco o que acontecia, em meados da década de 1970, antes da Reforma Sanitária, quando predominava um modelo de atenção à saúde centrado no hospital. Naquele contexto, houve amplos incentivos para a criação de hospitais particulares que prestassem serviços ao finado INAMPS, e muitas internações hospitalares foram realizadas de maneira indevida, mas aquelas internações foram reais, supostamente com o mero objetivo de angariar dinheiro dos cofres públicos.

                         A reportagem também mostrou situações em que cidadãos tiveram seus nomes e CPFs utilizados à revelia para que fossem forjadas compras de medicamentos pelo programa Farmácia Popular. Medicamentos pelos quais o governo paga mas que não chegam a ser dispensados.

                         Foram mostrados ainda exemplos de que a privatização velada de instituições públicas de saúde cujas gestões são entregues às ditas organizações sociais (OSs) pode ser deletéria ao nosso sistema de saúde e ao erário público. Como escrevi em outra postagem, o Estado, mesmo sob a administração de um grupo político supostamente de esquerda, no caso do Brasil, mais do que nos tempos do neoliberalismo escancarado, está procurando cada vez mais tirar o corpo da reta, porque, de tão grande e obeso, de tanto sugar o sangue dos cidadãos por meio dos impostos, como um parasita voraz, já não consegue mais se mover e já se declara incapaz de cumprir adequadamente o seu metiê, que é cuidar de suas instituições e das pessoas. Como o Estado já não consegue fazer mais nada disso, ele começa a delegar essas tarefas à iniciativa privada, provendo-lhe com recursos supostamente suficientes para custear essas tarefas, mas que, por vezes, acabam sendo empregados de maneira duvidosa.

                         Acreditar que esse "arrendamento" de hospitais e clínicas deve melhorar os serviços prestados à população é muita ingenuidade. Melhor acreditar em Papai Noel, em duendes, em discos voadores, entre outras entidades que uns dizem que existem, outros dizem que não. Enfim, não pense que só estou escrevendo isso porque a Globo disse. Já faz um tempo que venho observando isso por mim mesmo. Será que um Estado como esse que se mostra tão omisso assim, não apenas na área da saúde, merece nosso crédito???

                         Como falei em impostos, há dois parágrafos acima, repare que, chegando quase ao final desta página, lá embaixo, logo após as postagens, antes dos selos e banners e bem antes do rodapé, há um placar ativo e atualizado automaticamente em tempo real com o volume de impostos arrecadados pela União, só este ano, o que já ultrapassou a cifra de um trilhão de reais. Cortesia do site http://www.impostometro.com.br/. O que é feito desse dinheiro??? Por que um país que arrecada tanto dinheiro ainda se considera e parece ser tão pobre??? "País rico é país sem pobreza". Faz-me rir.  
                     


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