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sábado, 28 de dezembro de 2013

Retrovisor


                       Por vezes, ficamos nos remoendo sobre o que fizemos ou o que deixamos de fazer, num passado qualquer. Ficamos ruminando também sobre as possíveis consequências de nossos atos e de nossas decisões, bem como de atos e decisões de terceiros, para nossas vidas. Consequências que nem sempre vêm, mas continuamos a viver e sofrer como se estivéssemos sob o jugo daquelas atitudes e decisões, durante muito tempo. Estamos habituados a levar muitas bordoadas da vida e elas ressoam em nossas cabeças, durante muito tempo. Para onde vamos, sempre carregamos nossos traumas, como se fossem bolas de ferro acorrentadas aos pés.


                       Estava pensando com meus botões a respeito desses aplicativos de avaliação de indivíduos do sexo oposto, que têm sido divulgados nas redes sociais. Lembrei-me de que, há muitos anos, fui vítima de bullying no colégio. Quiçá por não ser o tipo de rapaz que gostaria de ser e que penso que o mundo gostaria que fosse. Não era rico ou alto, não tinha corpo atlético e não era muito bem sucedido nos estudos ou nos esportes. Quiçá, por isso, não estava muito bem cotado entre as moças. Certamente, como não me tinham em boa conta, organizaram uma votaçãozinha, na minha classe do colégio, e me elegeram o rapaz mais brega da turma. Daqui se pode tirar a consideração que aquelas pessoas tinham por mim. Ninguém é obrigado a gostar de alguém, mas um pouquinho de respeito sempre faz bem, não é verdade?

                       Então você me pergunta porque ainda estou sofrendo e ressentido com aquele episódio, se já não sou mais a sombra do homem que era, há quinze anos, e aquelas pessoas que me viam como brega, se me vissem hoje, em princípio, não me reconheceriam, depois ficariam de queixos caídos. Aquele episódio deixou-me um corte na alma, uma ferida narcísica profunda. Apesar de todo o progresso obtido, nos últimos anos, minha autoestima ainda está abalada. Em muitos lugares onde passei, jogaram-me ao chão, pisotearam-me e aqui fiquei. Então, escolhi a carreira profissional na qual me encontro atualmente, entre outras razões, para tentar reerguer minha autoestima e me reerguer, mas ainda não consegui chegar aonde pretendia e ainda não me considero satisfeito comigo mesmo.

                       De qualquer maneira, doravante, pretendo me desapegar daquele sofrimento, por conta daquele rótulo. Não posso mais permitir que meus finados digam como devo conduzir minha vida, lá no passado. Não sei em que mundo eles vivem e se eles se importariam com isto, atualmente. Pouco me importa se eles se importam ou não. Estou partindo do princípio de que, neste mundo, estamos sempre de passagem, onde quer que estejamos, porque este mundo é um grande deserto.

                       Naquele lugar, nada a me oferecer, nada a ganhar, nada a perder. Naquele lugar, não havia lugar para mim. Ainda não entendi como fui parar lá e o que estava fazendo lá, pois aquele lugar não me pertencia e eu também não lhe pertencia. Daquele lugar, não havia muito que se aproveitasse. O meu futuro, definitivamente, não estava lá. Portanto, preciso sair de uma vez por todas daquele lugar e quero que ele saia de mim também.

                       Falando em ser brega, encerramos esta postagem com nossas condolências pela perda recente de Reginaldo Rossi, que estava na oficina de Deus, há pouco mais de uma semana, e era considerado "o rei do brega". Ele era engraçado e a temática de sua obra também. Que Deus o tenha. Com os vídeos a seguir, deixamos nossa homenagem ao artista e os dedicamos ao meu amigo Cleyton, um cara muito doidão, aquele que injeta petróleo e outros bons e vitais fluidos no sertão, fã de carteirinha de RR, e à minha querida Ane, mon amour, meu bem, ma femme.













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