Você já deve ter ouvido falar de Procusto, um personagem da mitologia grega, conhecido pela fama de roubar e de colocar suas vítimas num leito de ferro e esticá-las ou cortar-lhes partes de seus corpos, para que se ajustassem ao tamanho do leito, até que o feitiço virou contra o feiticeiro, quando ele morreu preso no próprio leito e decapitado.
O metiê de Procusto é uma metáfora do nosso cotidiano. Existem algumas possíveis interpretações para este mito. Uma é referente à intolerância entre as pessoas que não se aceitam entre elas, por causa de divergências políticas ou religiosas, etnias, orientações sexuais e times de futebol, por exemplo. Procusto não matava com requintes de crueldade apenas para roubar. Movido por um ideal delirante, ele agia como um psicopata, acreditando estar fazendo justiça, objetivando eliminar as diferenças entre as pessoas.
Além disso, os Procustos de hoje são também aquelas pessoas que querem manipular outras pessoas adultas, como se fossem seus pais, determinando o que elas devem fazer ou deixar de fazer, o que devem comer, vestir, escrever ou falar, por exemplo.
Outra interpretação é que, quando nos deparamos com determinados problemas do cotidiano, procuramos ajustá-los aos nossos conhecimentos e aos modelos preconcebidos em nossas memórias, tornando-os mais objetivos, para melhor compreendê-los e solucioná-los.
Além disso, os Procustos de hoje são também aquelas pessoas que querem manipular outras pessoas adultas, como se fossem seus pais, determinando o que elas devem fazer ou deixar de fazer, o que devem comer, vestir, escrever ou falar, por exemplo.
Outra interpretação é que, quando nos deparamos com determinados problemas do cotidiano, procuramos ajustá-los aos nossos conhecimentos e aos modelos preconcebidos em nossas memórias, tornando-os mais objetivos, para melhor compreendê-los e solucioná-los.
Na medicina, por vezes também atuamos assim. Por vezes, forçamos a barra, quando nos deparamos com quadros clínicos pobres que não reúnem critérios suficientes para fechar um diagnóstico, mas, mesmo assim, acabamos dando o diagnóstico mais aproximado e que mais se ajusta ao caso. Do mesmo modo, quando nos deparamos com quadros clínicos muito floridos, nos focamos apenas no que mais nos interessa e que seja suficiente para fechar um diagnóstico, aparando as arestas.
No entanto, isso não quer dizer que devemos nos limitar a ver apenas os problemas dos pacientes, seus órgãos e seus sistemas orgânicos, deixando de dispensar-lhes as devidas atenções integrais, dentro de nossas possibilidades, tentando vê-los por inteiro, haja vista que a medicina não nos dá o direito de dissecá-los vivos, embora uns e outros se arrisquem a fazê-lo.
Médicos também são meio procustianos, ou pelo menos desejam sê-los, quando seus pacientes não apresentam os resultados esperados para as terapias instituidas, especialmente quando não há uma adesão satisfatória ao tratamento. Então, eles os veem como aquelas figueiras que não dão frutos, como diz o Evangelho. A vontade é de forçar a barra, pegar pesado, ou até mesmo desistir.
Cada médico tem direito a usar as ferramentas que lhe convêm, para atingir seus objetivos, desde que não seja antiético, mas acho abusivo se deixar levar pela febre da mensuração e da quantificação de manifestações patológicas e pretender fazer consultas com um check list na mão, condicionando o estabelecimento de um diagnóstico e de um tratamento à aplicação de escalas. O próprio Sistema Único de Saúde (SUS) também age de maneira procustiana, ao restringir o fornecimento de medicamentos antipsicóticos de última geração e de alto custo aos pacientes que tenham diagnóstico de esquizofrenia paranóide, por exemplo, recusando o mesmo tratamento a outros pacientes que dele necessitem.
Enfim, o procustianismo parece se confundir um pouco com o pragmatismo, ou seja, com a objetividade, uma maneira de moldar a realidade e de adaptá-la às nossas capacidades e necessidades, o que, por um lado, pode ser bom, por outro lado, pode ser ruim.
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