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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Parem tudo que eu quero descer 5


                       Como diria o filósofo, a ordem dos tratores não altera o viaduto. É um aforismo derivado daquela regra da matemática que diz que a ordem dos fatores não altera o produto, na multiplicação de valores. Pois bem, falando em tratores e em viaduto, se você mora em Fortaleza, já deve ter tomado conhecimento da polêmica que envolve a construção de um viaduto nas imediações do já tão arranhado Parque do Cocó. O objetivo seria tentar desafogar o trânsito nas vias que cortam o parque.

                       Você soube também que, há pouco mais de uma semana, um grupo de manifestantes que estavam acampados numa área desmatada, onde deve vir a ser o canteiro de obras do viaduto, na altura do cruzamento entre as avenidas Engenheiro Santana júnior e Antonio Sales, foi expulso do local, de maneira meio covarde, na calada da noite, pela Guarda Municipal. Nesse interin, as obras foram embargadas pela Justiça, os manifestantes voltaram a ocupar o espaço, mas as obras já foram liberadas e os manifestantes foram outra vez expulsos.
                      
                       Entendo que é muito triste ver florestas sendo derrubadas e outros ambientes naturais sendo degradados, para dar vazão à voracidade de crescimento da sociedade, mas estamos todos inexoravelmente fadados a sermos atropelados pelo progresso. Levando por esse lado da preservação ambiental do Parque do Cocó, a causa dos manifestantes talvez seja justa, embora suas manifestações tenham sido desencadeadas meio que tardiamente. A especulação imobiliária já se faz presente no parque, e nada parece ser capaz de detê-la. Então, cedo ou tarde, os manifestantes teriam de ceder e se retirar.

                       Não conheço o projeto, não entendo de engenharia e não sei dizer se ele é econômica e ecologicamente sustentável, mas posso dizer que alguma atitude precisa ser tomada, para que o trânsito de Fortaleza possa fluir melhor, haja vista que a cidade já está saturada de pessoas e de veículos. Se existem alternativas ao viaduto que sejam melhores e exequíveis, pelo menos à médio prazo, que sejam logo apresentadas e apreciadas. Até que isso aconteça, lamentavelmente verei esse viaduto como um mal necessário. Sabemos que um viaduto não faz milagres, mas há um problema pontual a ser resolvido o quanto antes: os congestionamentos nas principais vias do bairro Seis Bocas. Feito isto, temos que estar preparados para começar a tentar resolver o caos do trânsito de Fortaleza, porque o viaduto deve aliviar temporariamente o fluxo de veículos naquele bairro, mas, se nos acomodarmos, logo ele se mostrará inútil e as repercussões negativas se alastrarão por toda a cidade. 

                       Então, precisamos pensar de maneira mais ampla, não somente em soluções para o trânsito de veículos motorizados, mas também na mobilidade urbana em geral. Precisamos também criar substratos para que Fortaleza seja uma cidade mais ecológica, mais humana e que possa explorar mais outras alternativas de locomoção ao transporte em quatro rodas. Ou seja, precisamos tornar a cidade mais interessante e mais segura para que os fortalezenses e os visitantes se sintam à vontade para circular em bicicletas, transportes coletivos ou à pé. Não se engane, pois não estamos diante de um trabalho fácil. Quem tiver propostas e quiser se habilitar a resolver este problema terá de atacar em várias frentes, simultaneamente, uma tarefa hercúlea. Portanto, não adianta demonizar a figura de um só gestor público.
         
                       
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