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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Parem tudo que eu quero descer 4


                       Um dia desses, um de meus orientadores da residência médica chegou atrasado ao hospital, porque enfrentou um congestionamento, no trajeto desde sua casa ao hospital. Tudo bem, sabemos que congestionamentos à moda paulistana já não são mais novidade, para quem mora em Fortaleza. Este nosso professor, por exemplo, tem muita experiência com engarrafamentos, haja vista que ele precisa cruzar a cidade, diariamente, para chegar ao meu hospital, coisa que faço apenas uma vez por semana, e me sinto como se estivesse viajando à uma cidade vizinha. Depois conversamos mais sobre isto.



                       O que há de novidade nisto??? Acontece que, naquele dia, nosso preceptor fez uma reflexão distinta, sobre os impactos do crescimento urbano em nossas vidas. Ele percebeu que, enquanto ele trafegava por algumas ruas, com passos de formiga, o trânsito tendia a ficar mais lento, por conta das filas de veículos que tentavam sair dos edifícios às margens das vias.


                       Está havendo um processo de verticalização cada vez mais intenso e mais concentrado, em alguns bairros da cidade. Inicialmente, a verticalização de Fortaleza se processava ao longo da orla marítima, que já está saturada, o que implicou mudanças climáticas, devido às barreiras artificiais impostas às correntes de ar. Aqui, temos uma verticalização nada parecida com a de Tóquio, que já é uma cidade praticamente verticalizada, onde até os cemitérios são verticais e onde se procura aproveitar ao máximo os espaços, haja vista que o Japão é um país relativamente pequeno e relativamente pobre em recursos naturais. Aqui, não temos problemas com falta de espaços. Então, considero que esta verticalização exacerbada é uma grande estupidez, apenas para motivar a especulação imobiliária. Há rumores, por exemplo, de que estariam verticalizando o Bairro de Fátima e superfaturando o metro quadrado daquele lugar, sob o pretexto de o Brasil ser o maior país católico do mundo e de que, naquele bairro, está um dos maiores santuários católicos de Fortaleza. Que vergonha!!! Depois conversamos mais sobre isto.

                       Meu mestre observou que a construção de muitos prédios de apartamentos, bem como de condomínios fechados, concentrados em uma determinada área da cidade é danosa, porque aumenta excessivamente a densidade demográfica do lugar, causando, por tabela, congestionamentos nas ruas do bairro, bem como nas vias internas dos condomínios, nos horários em que os moradores saem para trabalhar ou estudar e nos horários em que retornam aos seus lares. É mais ou menos o que já está acontecendo em bairros como Cidade dos Funcionários, por exemplo. Acrescento que o excesso de pessoas concentradas em uma pequena área geográfica também incrementa a exploração dos recursos naturais do lugar, que podem vir a se tornar insuficientes para aquelas pessoas.


                       Há cerca de um ano, quando a população mundial atingiu o patamar de sete bilhões de habitantes, o Fantástico exibiu uma série de reportagens chamada "Lotação esgotada". O objetivo era chamar a atenção para os impactos do crescimento populacional até esse patamar. O que se viu foi que os recursos naturais não são infinitos e que eles podem não ser suficientes para sustentar a população mundial, se ela continuar a crescer infinitamente, dependendo da maneira que usamos esses recursos. A Terra é grande, mas, assim como a boate Kiss, guardadas as devidas proporções, ela também tem uma capacidade máxima tolerável. Então, que cada um procure fazer sua parte, para tentar salvar o mundo ou, pelo menos, uma parte dele.

                       O que mais me chamou a atenção, naquelas reportagens, foi que eles defenderam justamente a ideia de que é melhor concentrar as pessoas vivendo no menor espaço possível, para que elas se desloquem menos e consumam menos combustível, e para que insumos como água corrente, energia elétrica, gás encanado e fiações de telefone, TV por assinatura e Internet, por exemplo, percorram distâncias menores, servindo ao máximo de pessoas possível. Olha, concordo com tal medida, desde que aquelas pessoas tenham o privilégio de morar próximas aos seus principais locais de trabalho, de entretenimento e de outras atividades relevantes para suas vidas, como serviços religiosos, por exemplo.

                       Tenho fortes razões que me impelem a voltar a escrever sobre esta questão das mazelas do crescimento urbano exacerbado. Os problemas que enfrentamos aqui estão, de certa forma, interligados. Por enquanto, posso adiantar que, querendo ou não, fazemos parte de nossas cidades. É o que diz a canção a seguir, You belong to the city, de Glenn Frey, parte integrante da trilha sonora da série de TV Miami Vice, sucesso da década de 1980. Se você tiver interesse em (re)ver a série, ela está sendo exibida, de segunda à sexta, às 21h (Horário de Brasília), no TCM (canal 70, para os assinantes da SKY).


                     
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