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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Fatias


                       Na postagem de hoje, seguiremos a máxima postulada por um de meus orientadores da residência médica: "Como diria o filósofo Jack, o Estripador, vamos por partes". Parece humor negro, não é? Você vai já entender porque estou empregando esta frase.


                       Você já deve ter ouvido falar da história de Jack, o Estripador. Trata-se de um ilustre desconhecido. Foi a alcunha dada pela polícia e pela imprensa à um assassino em série que agiu na inchada e turbulenta Londres do fim do século XIX, assassinando mulheres e dissecando-lhes partes de seus corpos, e que nunca foi identificado e preso. Para você ter uma ideia, Londres, que era a capital do país mais rico e mais desenvolvido do mundo na época, era uma cidade parecida com São Paulo atual, desenvolvida economicamente, repleta de indústrias, mas também hipertrofiada estruturalmente e superpovoada, onde o Poder Público também já não conseguia chegar efetivamente à todos os recantos e habitantes, para prover o que eles precisavam e manter a ordem. Londres era também um lugar onde o excesso de contingente, a miséria e a delinquência andavam de mãos dadas. Esta realidade mudou um pouco, ao longo de pouco mais de um século, em parte pela restrição rigorosa ao uso e à circulação de armas de fogo na Inglaterra, embora Londres ainda esteja longe de ser considerada uma cidade tranquila. Voltaremos a conversar sobre isto.


                       Então, fiz todo este preâmbulo acima, porque, semana passada, vimos as notícias relacionadas ao julgamento de um dos réus do caso Eliza Samúdio, o ex-policial civil Marcos Aparecido, vulgo Bola, que foi condenado. O que me chamou a atenção, neste caso, foram duas coisas. Primeiro, o fato de dois delegados que investigaram o caso terem sido arrolados como testemunhas de defesa. Se fossem de acusação, não me surpreenderia. Segundo, durante este último julgamento, deram continuidade ao debate se Eliza foi esquartejada ou não foi. Olha, vejo esta discussão como fútil. Não interessa se ela foi esquartejada como Marcos Matsunaga foi. O que importa é que tudo indica que ela foi assassinada, de um jeito ou de outro. Pode ser que seus restos mortais nunca venham a ser encontrados, assim como os de muitos dos desaparecidos da época do regime militar nunca o foram, mas não creio que ela esteja viva, pois, se estivesse viva, ela já teria aparecido, de um jeito ou de outro, em algum lugar. Os réus já admitiram que ela foi assassinada. Se ela estivesse viva, o que eles teriam a ganhar, escondendo isto???


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